Pesquisas da USP-Esalq em entomologia permitem a sustentabilidade da citricultura brasileira

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Psilídeo morto pelo fungo Isaria (Foto: M. R. Conceschi, USP-Esalq)
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O Brasil é o maior produtor de suco de laranja do mundo, a despeito do aparecimento da doença conhecida como greening ou huanglongbing (HLB) desde 2004. O greening é a doença dos citros (laranja, limão e tangerina), mais temida pelos produtores por ainda não ter cura ou tratamento. O setor citrícola, por meio do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) e outros órgãos financiadores como Fapesp, CNPq e Capes, têm ao lado de empresas, apoiado vários projetos de pesquisa na USP-Esalq com vistas ao controle desta importante doença, a mais relevante da citricultura mundial. O problema é causado pelo psilídeo Diaphorina citri, que se alimenta nas brotações dos citros e transmite uma doença causada por bactérias denominadas “Candidatus Liberibacter spp.”, que pode levar à morte as plantas cítricas.

No Brasil, medidas de manejo como a erradicação de cerca de 50 milhões de árvores desde o aparecimento da doença, o uso intensivo de inseticidas para controlar o inseto vetor e o emprego de mudas sadias, tem mantido, nos últimos três anos, um percentual de plantas infectadas em torno de 17%. Na Flórida (EUA), por exemplo, onde tais medidas não foram adotadas, o HLB já infecta 95% das plantas cítricas.

No dia 07 de dezembro último, o Fundecitrus comemorou 40 anos de serviços prestados à citricultura brasileira. Nesta oportunidade, foram anunciados resultados das pesquisas que mudarão a forma de manejo do HLB. Dentre elas, o registro de um biopesticida que tem como princípio ativo o fungo Isaria fumosorosea, para controle do psilídeo vetor do HLB. Este produto foi desenvolvido pelo grupo de pesquisa liderado pelo professor Ítalo Delalibera Jr. do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq, em parceria com o Fundecitrus e a empresa Koppert do Brasil. Este produto poderá substituir os inseticidas largamente utilizados na citricultura brasileira.

Uma segunda inovação, apresentada no evento, foi o feromônio sexual do psilídeo D. citri, descoberto após 12 anos de estudos, envolvendo o Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq, liderado pelo professor José Mauricio S. Bento, com a participação da Universidade da California-Davis (EUA) por meio do professor Walter Leal, e de diversos pesquisadores do Fundecitrus. Esta descoberta amplamente esperada permitirá a síntese e registro do feromônio sexual, que possibilitará um monitoramento mais eficiente e facilitando o controle do inseto vetor com inimigos naturais ou inseticidas.

Estes resultados foram comemorados pela comunidade científica e pelos citricultores em geral, pois mostra o avançado estágio de desenvolvimento da citricultura brasileira e de seus pesquisadores, saindo na frente de pesquisadores americanos no controle do HLB.

Estas duas tecnologias se somam a outra tecnologia também desenvolvida na Esalq que nos últimos 3 anos vem sendo utilizada para o controle do vetor do HLB. Consiste na produção e liberação do parasitoide Tamarixia radiata, como uma nova estratégia no manejo dos citros, desenvolvida pelo grupo liderado pelo professor José Roberto P. Parra, também do Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq. Ao todo já existem 7 biofábricas em operação, que já produziram cerca de 10 milhões de parasitoides no estado de São Paulo.

Assim, graças a estas pesquisas da Esalq, com o apoio de seus parceiros, a citricultura brasileira vem conseguindo reduzir a população do psilídeo e consequentemente os prejuízos do HLB, atendendo às exigências da agricultura atual com sustentabilidade.

Tradição da USP-ESALQ na citricultura

O Departamento de Entomologia e Acarologia da Esalq tem participado de forma decisiva na solução de problemas da citricultura brasileira nos últimos 20-25 anos. Dentre os avanços alcançados no período destacam-se: 1) descoberta e registro do feromônio do bicho-furão dos citros, que é comercializado pela Coopercitrus, permitiu com a sua utilização que os citricultores paulistas deixassem de perder 1,3 bilhão de dólares, conforme artigo científico publicado em 2016, abordando 12 anos de uso desta tecnologia; 2) descoberta e síntese do feromônio sexual do minador-dos-citros, Phyllocnistis citrella, e a utilização do parasitoide Ageniaspis citricola, importado da Flórida (EUA) em 1998, foram fundamentais para combater esta praga e evitar a progressão da doença cancro cítrico, relacionada ao minador.

Texto: José Roberto Postali Parra, José Maurício Simões Bento e Italo Delalibera Junior

Armadilha contendo o feromônio do psilídeo Diaphorina citri. (Foto: O. Z. Zanardi, Fundecitrus).
Parasitoide Tamarixia sobre ninfas do psilídeo (Foto: J. M. Vieira, USP-Esalq)