

Pesquisadores do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) publicaram o primeiro mapa global de solos com resolução de 90 metros. O estudo, desenvolvido ao longo de seis anos, foi divulgado na revista The Innovation (fator de impacto 33), combinou imagens de satélite com dados de campo, em uma iniciativa que envolveu mais de 50 cientistas de diferentes países.
Mapas das propriedades do solo em profundidade de 0 a 20 cm e resolução de 90 m com métricas de modelagem.
A coordenação do trabalho foi dos professores José Alexandre Demattê e Raul Roberto Poppiel, com participação de estudantes e pesquisadores do grupo GeoCiS da Esalq/USP. Também assinam o artigo os pesquisadores Jean de Jesus Macedo Novais, Nicolas Augusto Rosin e Jorge Tadeu Fim Rosas, todos vinculados ao mesmo departamento.
Entre os resultados, destaca-se que 64% da superfície terrestre é composta por solos arenosos, considerados menos favoráveis ao uso agrícola intensivo. “É preciso olhar com mais atenção para os solos arenosos do Brasil. Seu manejo exige conhecimento detalhado sobre a mineralogia e o comportamento da água no solo, o que ainda é pouco estudado em muitas regiões”, afirma o professor José Alexandre Demattê.
A pesquisa também observou que, em áreas agrícolas, o pH do solo é até 1,6 unidades mais alto do que em áreas de vegetação nativa. “Esse aumento está relacionado ao uso contínuo de fertilizantes e corretivos. São insumos fundamentais para manter a produtividade, mas seu uso excessivo pode comprometer o equilíbrio químico e biológico do solo, com impactos cumulativos ao longo do tempo”, explica Demattê.
Solos e mudanças climáticas
O levantamento mostra ainda que os solos desempenham papel relevante no armazenamento de carbono. De acordo com o professor Raul Roberto Poppiel, solos sob vegetação nativa armazenam 54% do carbono orgânico global, enquanto áreas agrícolas apresentam, em média, 60% menos carbono.
“O solo funciona como um grande reservatório de carbono. Preservar esse carbono no solo é essencial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”, afirma Poppiel. “Quando a matéria orgânica do solo é degradada, perdemos não apenas fertilidade, mas também a capacidade do solo de reter água, manter a biodiversidade e regular o clima”.
O docente complementa que práticas como plantio direto, uso de culturas de cobertura e sistemas agroflorestais são indicadas no estudo como estratégias para recompor a matéria orgânica e aumentar os estoques de carbono no solo.
Estoque de carbono e economia
O estudo também identificou uma relação entre os estoques de carbono no solo e o nível de desenvolvimento econômico. As dez maiores economias do mundo concentram 75% do carbono presente nos solos agrícolas globais, enquanto países em desenvolvimento apresentam estoques menores.
“Esses dados revelam uma oportunidade para políticas de incentivo à conservação e regeneração dos solos, inclusive por meio do mercado de créditos de carbono”, destaca Poppiel.
Texto: Caio Albuquerque (7/8/2025)