

Um estudo publicado na revista Communications Earth & Environment, do grupo Nature, liderado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e do Centro de Estudo de Carbono em Agricultura Tropical (CCARBON/USP), revelou que a produção científica mundial sobre saúde do solo cresceu significativamente na última década, com 52% dos artigos publicados nos últimos 5 anos e 74% nos últimos 10 anos. De acordo com Prof. Maurício Roberto Cherubin, docente do departamento de Ciência do Solo da Esalq/USP e CCARBON/USP, autor do artigo, saúde do solo é uma temática emergente no Brasil e no mundo, atraindo interesse não somente da academia, mas também do setor produtivo e de iniciativas governamentais.
“Solos saudáveis desempenham múltiplas funções críticas que sustentam a saúde planetária e humana, sustentando a produção de alimentos, fibras e bionergias, sequestro carbono, habitat para a biodiversidade, o armazenamento e ciclagem de nutrientes e a regulação da água. Essas funções são cruciais para manter o equilíbrio do ecossistema, aumentar a resiliência climática e garantir a sustentabilidade a longo prazo”, comenta Cherubin.
O estudo revelou, no entanto, que a essa produção científica concentra-se em poucos países, tais como China, Estados Unidos, Índia, Brasil e países europeus. Cerca de 70% dos estudos tem origem nos 10 países que mais publicam nesta área. Estes países também apresentam as maiores cooperações cientificas entre si, e hospedam a maioria dos pesquisadores mais produtivos na área. No top-5 dos pesquisadores mais produtivos do mundo estão Rattan Lal (The Ohio State University - EUA), Douglas Karlen (United State Department of Agriculture - EUA), Maurício Roberto Cherubin (Esalq/USP – Brasil), Davey Jones (Bangor University – UK) e Carlos Garbisu (NEIKER - Instituto Vasco de Investigación y Desarrollo Agrario – Espanha). A lista completa do top-100 pesquisadores está disponível em (https://doi.org/10.5281/zenodo.16533452).
Para o prof. Cherubin, ser listado como um dos cientistas mais produtivos da área é motivo de orgulho pois demonstra claramente a alta capacidade científica que temos em nosso grupo de pesquisa, e também que reforça para a comunidade internacional que o Brasil é um polo de ciência em saúde do solo. “Essa destacada produção científica é reflexo do trabalho árduo dos orientados do grupo de pesquisa de Manejo e Saúde do Solo (Soil Health & Management Research Group - SOHMA), criado em 2019, que rapidamente se tornou uma referência nos estudos de saúde do solo” destaca prof. Cherubin.
O estudo ainda aponta os principais “pontos cegos”, regiões com pouca ou nenhuma pesquisa sobre saúde do solo, a destacar a América Central e do Sul (exceto Brasil), África, Sudeste Asiático e Oriente Médio. Paradoxalmente, estas regiões são as regiões mais vulneráveis pelas taxas elevadas de desmatamento, erosão severa, perda de biodiversidade e estão entre os mais ameaçados pelas mudanças climáticas. Para o prof. Cherubin, este aspecto do estudo é um dos mais críticos. “Como podemos avançar em termos de segurança alimentar e combate as mudanças climáticas, se as regiões do globo mais vulneráveis à estas ameaças são justamente as regiões com a maior carência de informações, menores investimentos em ciência? Consequentemente, são áreas com baixa capacidade de gerar tecnologias capazes de reverter esse cenário dentro de um prazo ainda viável, dada a urgência climática que vivemos”.
Para enfrentar esse cenário, os autores recomendam que a saúde do solo seja priorizada nas agendas nacionais (como a Brazilian Soil Health Partnership) e internacionais, com ampliação de investimentos, fortalecimento de redes de pesquisa locais e uso de ferramentas de monitoramento da saúde do solo que sejam simples e de baixo custo. Finalmente, o estudo reforça que a recuperação da saúde dos solos é fundamental para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e garantir segurança alimentar e resiliência climática.
O estudo conta com os seguintes coautores da Esalq/USP e CCARBON/USP: Carlos Roberto Pinheiro Junior, Lucas F. N. Souza, Lucas P. Canisares, Tiago O. Ferreira e Carlos Eduardo P. Cerri, além do prof. Budiman Minasny, da The University of Sydney, e Prof. Pete Smith, da University of Aberdeen.
Financiamento – FAPESP #2021/10573-4
Leia o paper na íntegra: https://www.nature.com/articles/s43247-025-02663-w
Texto: Caio Albuquerque, com informações do CCARBON (12/8/2025)
a Number of scientific papers (annual and cumulative) on soil health, highlighting the production of the top-10 most productive countries. b Total number of publications from the top-10 countries from 1947 to 2024; c Global soil health scientific collaboration network, number of publications by country and latitudinal distribution; d Location of the top-100 most productive researchers (authors), grouped by country.