Para articular a curricularização da extensão universitária ao fortalecimento da Agricultura Familiar e a consecução da Agenda 2030, especialmente do ODS 2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), recebe entre o dia de hoje, 30 de janeiro e 1º de fevereiro, o Profor-Ext – Programa de Formação em ATER para Assentamentos da Reforma Agrária.
O Programa é coordenado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com outras 15 Instituições de Ensino e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).O PROFOR, proporciona aos docentes e discentes de diferentes instituições de ensino brasileiras a realização de atividades voltadas à formação em Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para e com agricultores familiares assentados da Reforma Agrária, em especial os jovens, identificando problemas e construindo soluções para sua sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Além da Esalq, o Encontro Profor-Ext Regional Sudeste reúne, nestes três dias, docentes, pesquisadores, profissionais, estudantes e jovens assentados, integrantes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Instituto Federal de São Paulo (IFSP campus Avaré), Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e Universidade Federal Fluminense (UFF).
Neste primeiro dia, marcaram presença lideranças comunitárias dos assentamentos rurais e convidados especiais que contribuem para o enriquecimento das reflexões e debates ao longo do evento.
Na programação geral do encontro constam a realização de diferentes Mesas de Debate, com a participação de 25 convidados, entre autoridades, pesquisadores, gestores públicos e especialistas. Conta, ainda, com espaços dedicados ao trabalho colaborativo e à troca de experiências em grupo.
Neste 30 de janeiro, ocorreu a cerimônia de abertura do evento, cuja mesa de honra constitui-se da Profa. Thais Maria Ferreira de Souza Vieira - Diretora Esalq/USP; Graciella Corcioli - Coordenação Nacional PROFOR-Ext; Fábio Frattini Marchetti – Comissão Organizadora local; Prof. Luciano Mendes, Prefeito do Campus USP Luiz de Queiroz; Edward Madureira Brasil – Professor Titular da UFG.
Já no início da cerimônia de abertura, os participantes acompanharam um vídeo e uma menção em homenagem a Valdir e Gleison, assentados do Assentamento Olga Benário, em Tremembé (SP), vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra.
Um ataque armado ocorrido no referido local, no dia 10 de janeiro de 2025, provocou a morte dos dois companheiros e deixou mais seis feridos.
Valdir e seus companheiros lutavam, há muito tempo, contra as ameaças, ataques e tentativas de invasão do assentamento promovidas por setores privados e políticos da região interessados, apenas, na especulação imobiliária e fundiária.
Na sequência, a grande maioria dos assentados presentes se uniram para deixar eternizadas frases que marcaram a trajetória de luta dos vitimados, Valdir e Gleison.
O evento contou, ainda, com atividade socioeducativa que valoriza a ancestralidade e o resgate histórico cultural de atividades e atores populares, chamando ao palco o Grupo de Viola Caipira, composto por Marina Ebbecke e Gabriel Souza. Juntos, eles ressoaram as duas violas como se estivessem num diálogo.
Após a apresentação dos violeiros, a programação caminhou para a formação da Mesa 1, um tempo dedicado ao trabalho colaborativo e à troca de experiências em grupo, pois os coordenadores do evento tiveram como pauta tratar da ‘Análise de conjuntura em torno da agricultura familiar’.
A exemplo do que aconteceu nesse primeiro dia do evento, durante a parte da manhã, os demais dias seguirão nos mesmos moldes. Outras mesas virão, outras expressões artísticas também, além da Feira de trocas de sementes e produtos da agricultura familiar, tour pela Esalq e cafés agroecológicos. E, mais uma vez, autoridades locais, estaduais e federais, bem como coordenadores do PROFOR-Ext, em nível nacional e local estarão prestigiando o evento.
A coordenadora nacional do PROFOR-EXT, Graciella Corcioli, trouxe um panorama do programa e seus desafios. “O programa está presente em 11 estados da federação, em todas as regiões do Brasil, e a agricultura familiar é bastante diversa nesses estados. Então, um dos desafios é integrar essa equipe para trabalhar com essa diversidade. Por isso, aqui serão debatidos temas relacionados à assistência técnica e extensão rural. Além disso, vamos conhecer projetos que a Esalq possui para integrar junto ao PROFOR, porque o PROFOR tem essa capacidade de levar tanto as nossas iniciativas para o campo, como também levar outros projetos que as outras instituições desenvolvem”.
O pesquisador e membro local da organização do evento, Fábio Frattini Marchetti, falou das expectativas em torno do evento. “Este encontro reúne 100 participantes entre gestores públicos, especialistas, autoridades e assentados em geral da reforma agrária, para discutir o tema da agricultura familiar. Estão em pauta a agroecologia, a luta pela terra, os sistemas e os trabalhos de assistência técnica e extensão rural. Esperamos avançar nos debates sobre esses temas e conseguir articular diferentes instituições, entre elas a Esalq, a UNESP, a UFSCAR, o Instituto Federal de São Paulo, o Instituto Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal Fluminense, articulando essas diferentes equipes para trabalhar em conjunto, pensando no desenvolvimento rural sustentável”.
Anfitriã do evento, a diretora da Esalq, professora Thais Vieira, comentou sobre a aproximação entre a Universidade e as esferas do poder estadual e federal em prol da agricultura familiar. “Em 2023, a Esalq/USP assinou um termo de cooperação técnica-acadêmica e científica com o MDA, e esse projeto acaba sendo um dos pilares dessa cooperação, especificamente, com a participação da Esalq e de outras universidades, e envolve não somente professores, mas principalmente recém-formados, que tornam-se residentes, além de alunos de graduação bolsistas que atuam sob supervisão do coordenador, cada um na sua unidade, com intervenções levando conhecimento, treinamento, fazendo um alinhamento nos assentamentos, levando tecnologia e novas práticas para que esses assentamentos, que estão ao nosso entorno, consigam ingressar com cada vez mais força no cenário da agricultura e dos sistemas agroalimentares do Brasil”.
Temas de demais mesas programadas
- Reforma Agrária e Políticas Públicas – conta com autoridades e gestores públicos do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER), com o objetivo de saudar os participantes e discorrer sobre o contexto nacional e as políticas públicas concernentes à agricultura familiar, reforma agrária e ATER.
- Programas em parceria com INCRA e MDA – conta com coordenadores e representantes de diferentes programas conduzidos por instituições de ensino em parceria com o INCRA e MDA. Esses programas, tal como o próprio PROFOR-Ext, são viabilizados por dispositivos jurídicos conhecidos como Termo de Execução Descentralizada (TED). Tais programas tem um grande potencial para a convergência de ações e a consequente ampliação de seus resultados e impactos, quando trabalhados em sinergia. A apresentação e discussão desses programas visa construir pontes e complementariedade entre os TEDs e formas de atuação conjuntas.
- Mesa de Encerramento – tem como objetivo apresentar e validar a síntese e os principais encaminhamentos do evento, como as contribuições para a organização das equipes ao longo das atividades de 2025, bem como as possibilidades de articulação e parceria entre as instituições de ensino, o INCRA, o MDA e os diferentes TEDs. Propõe, ainda, elaborar sugestões e apontamentos para o fortalecimento da Agricultura Familiar, das políticas públicas para a reforma agrária e as atividades de formação em ATER.
Outras apresentações artísticas
- Baque Caipira – grupo percussivo piracicabano que tem como referência o Maracatu de Baque Virado. Fundado em 2013, pelo músico e educador Maicon Araki, tem se constituído como um espaço artístico, educacional e cultural de valorização e difusão da cultura brasileira. Desenvolve uma linguagem própria em relação às composições rítmicas, e integra às batidas do maracatu um sotaque afro-caipira, característico das manifestações populares do Vale do Rio Tietê.
- Cultural Samba de Lenço - originado das culturas africanas dos negros de raízes Bantu, O Samba de Lenço, apresenta também elementos oriundos da cultura portuguesa e indígena. No entanto, sua formação estética (música, ritmo e dança) é construída no Brasil, no que chamamos de cultura de resistência, de origem afro-brasileira vinda das áreas rurais. Duas fileiras são formadas: uma composta por homens e a outra por mulheres, ambos trazem um lenço, com o qual tiram o par para a dança. Os instrumentos são: tambor (chamado de caixa), um tamborim e um chocalho e as modas do Samba de Lenço podem ser cantadas de improviso. Em Piracicaba, o Samba de Lenço, adormecido há mais de 60 anos, foi retomado com o objetivo de resgatar, preservar e divulgar a cultura, visando estimular as novas gerações a multiplicar esse costume.
Texto: Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531 || Entrevistas: Caio Albuquerque | MTB 30356 || 30.01.2025
