O mês de dezembro foi marcado pelo bom volume de chuvas em boa parte da região agrícola do país, com exceção de partes do Rio Grande do Sul e do Matopiba, onde as chuvas não superaram 60 mm. No Paraná, norte de São Paulo e sul de Minas Gerais a chuva foi abundante e superou os 210 mm ao longo do mês (Mapa 1).
O armazenamento de água no solo manteve-se elevado em toda região Centro-Sul do país, variando e 60 a 90%. No Rio Grande do Sul o baixo volume de chuvas resultou em umidade do solo na faixa entre 45 e 60%. Os menores valores ocorreram no Nordeste, onde as altas taxas de evapotranspiração mantiveram a umidade do inferior a 45% (Mapa 2).
Como consequência, as maiores temperaturas foram registradas no Nordeste, onde as máximas oscilaram de 33 a 35°C. No sul do Paraná e Santa Catarina as temperaturas máximas ficaram entre 22 e 27°C. As mínimas não superaram 21°C no Sul do Brasil, enquanto que no Nordeste variaram de 21 a 25°C (Mapa 3 e 4).
Tempo e agricultura brasileira
A primeira quinzena de dezembro teve chuvas escassas em boa parte do Centro-Oeste e do Sul do país, afetando as lavouras de soja por causa do déficit hídrico, que pode resultar em leves perdas produtivas. No Tocantins, o volume acumulado em dezembro ficou 200 mm abaixo da média histórica, acarretando no maior índice de replantio de lavouras já registrado no estado.
Devido ao baixo volume de chuvas no Rio Grande do Sul também são previstas perdas para as lavouras de milho de primeira safra. Na região de Passo Fundo são esperadas perdas de até 50% na produtividade para as áreas que conseguiram entrar em granação antes ou durante o período de estiagem. Em contrapartida, no Paraná, as chuvas foram regulares em dezembro e mantiveram a umidade do solo em níveis adequados. Assim, grande parte das lavouras de milho no estado se encontram em boas condições.
O retorno das chuvas na última semana de dezembro trouxe otimismo aos produtores de café de Minas Gerais e São Paulo. O bom volume registrado ajudou na recuperação dos cafezais que haviam sofrido com o tempo quente e seco que ocorreu até outubro. Mesmo assim, a produção da safra 2019/20 deve ser menor que a da safra anterior devido à queda de flores e chumbinhos por causa da seca de setembro e outubro.
As altas temperaturas aceleraram a maturação das lavouras de tomate no Paraná, mas a alta umidade do ar tem favorecido a ocorrência de doenças e, consequentemente, a queda de qualidade dos frutos. As chuvas impediram a colheita das lavouras de cebola no estado, trazendo preocupação aos produtores pois a permanência dos bulbos por longo tempo no solo favorece a ocorrência de carvão. O alto volume de chuvas prejudicou também os pomares de maçã em Santa Catarina, onde foram relatadas ocorrências de doenças fúngica.
As chuvas de novembro e dezembro na região citrícola de São Paulo foram fundamentais para minimizar os danos causados pelo período seco de maio a agosto, que ocasionaram quedas dos frutos. O volume de chuva dessa safra está cerca de 17% abaixo da média histórica para o mesmo período. Sendo assim, as chuvas dos próximos meses podem favorecer pomares de laranjas que ainda não foram colhidos, cerca da 26% da área plantada, e amenizar as perdas produtivas.
Safra 2019/20 de soja no sul do Brasil
O Coeficiente de Produtividade Climática (CPC-TEMPOCAMPO) indica ganhos oscilando de 4 e 12% para os cenários intermediário e otimista, respectivamente, enquanto que para o pessimista perdas de até 4% podem ocorrer na região sul do país. As condições meteorológicas são mais favoráveis para o desenvolvimento das lavouras nas do oeste, noroeste e norte do Paraná, onde os ganhos devem variar entre 5 a 8% em relação à safra anterior. Já as maiores perdas são esperas nas regiões centro-leste e sudeste do Rio Grande do Sul, podendo superar 8%, considerando o cenário intermediário (Mapa 5).
Segundo as projeções geradas pelo Sistema TEMPOCAMPO, a produtividade média para o sul do Brasil deve variar de 3,3 a 3,8 Mg ha-1, considerando os cenários pessimista e otimista, respectivamente. As maiores produtividades são esperadas no Paraná, onde a média deve ficar em torno de 3,8 Mg ha-1. Já os menores valores devem ocorrer no Rio Grande do Sul, nas regiões sudoeste e sudeste, onde a produtividade média não deve superar 2,8 Mg ha-1, segundo o cenário intermediário (Mapa 6).
As chuvas excessivas haviam prejudicado a semeadura das lavouras em outubro e novembro no Rio Grande do Sul. Já em dezembro, o déficit hídrico preocupa os produtores. As previsões são pouco otimistas para janeiro e o armazenamento de água no solo deve se manter baixo. Isso pode dificultar o bom de desenvolvimento das lavouras de soja e aumentar o nível das perdas produtivas no estado. Assim, o Sistema TEMPOCAMPO prevê a produção para a safra 2019/20 de soja no sul do Brasil entre 36,34 a 42,75 milhões de toneladas, segundo os cenários pessimistas e otimista, respectivamente. Com o Rio Grande do Sul produzindo 21,15 milhões de toneladas, o Paraná correspondendo a 18,98 milhões de toneladas e Santa Catarina 2,62 milhões de toneladas. Enfatiza-se que a maior produção do Rio Grande do Sul deve-se a maior área plantada em relação aos demais estados.