Árvores de origem africana foram plantadas na Esalq
Narciso de Medeiros nasceu em 21 de novembro de 1892 na cidade de Iguape. Em 1914, foi o primeiro negro a graduar-se em Agronomia na então Escola Agrícola Prática de Piracicaba, hoje Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Após formado, voltou para a sua região e contribuiu com o desenvolvimento da bananicultura. Hoje, dá nome à ETEC Engenheiro Agrônomo Narciso de Medeiros, instituição que nasceu em 1970 com o nome de Colégio Técnico Agrícola de Iguape.
No último dia 20 de novembro, data em que celebramos o Dia da Consciência Negra, Narciso de Medeiros foi simbolicamente homenageado dando nome ao jardim que nasceu com o plantio de quatro mudas das árvores de origem africana baobá, fruta-pão-africana, akoko e mangostão-africano. Também foi plantada uma muda de noz-moscada, planta utilizada pelos povos de religiões de matriz africana.
Iniciativa do professor Lindolpho Capellari Junior, do departamento de Ciências Biológicas, o jardim ganhará novos exemplares anualmente, com o propósito de valorizar a diversidade étnica e racial, fenômeno cada vez mais significativo na universidade pública. “Temos observado o aumento do ingresso de pessoas negras na Esalq, o que nos deixa extremamente alegres, pois passamos a ter, nas salas de aula, uma boa representação étnica da população brasileira”, declarou o professor em sua solicitação à Comissão de Parques e Jardins do campus, quando solicitou uma área para o plantio. Segundo o docente, o propósito é celebrar essa diversidade, simbolizada no plantio como forma de acolhida aos jovens negros, que tem que vencer a discriminação social antes mesmo de ingressar aos bancos universitários.
A área destinada para alojar o jardim africano foi cedida pelo departamento de Zootecnia, próximo ao pavilhão de Não-ruminantes e ao laboratório de Metabolismo Animal, coordenado pela professora Carla Bittar. Após o plantio, o professor Lindolpho tem apresentado o local para representações da comunidade negra e política do município.
Ligada às pautas ambientais, a vereadora Silvia Morales visitou o local. Para a parlamentar, essa é uma iniciativa que pode transpor os limites da universidade. “Trata-se de uma ação que nos deixa muito feliz, e sugeri ao professor que projetos como este possam ser realizados também em um jardim da nossa cidade, pois é algo muito representativo do ponto de vista da integração entre as diversas culturas presentes em Piracicaba. Participamos de um fórum inter-religioso na cidade e pretendo divulgar essa ação por lá, pois é algo que está diretamente ligado às referências religiosas de matriz africana”.
Adney Araujo, membro do Conepir (Conselho da Comunidade Negra de Piracicaba) também esteve no local a e avaliou positivamente a ação com um diálogo entre a universidade e as representações da comunidade negra no município. “Nós tínhamos uma ideia de um futuro jardim africano em Piracicaba, e hoje quando o professor realiza essa ideia é magnífico. Então consideramos que essas sejam as primeiras mudas de uma iniciativa que conversa com a comunidade negra de Piracicaba e que representa a longevidade da nossa cultura. Hoje eu estou vendo as mudas recém-plantadas e tenho certeza de que meu neto vai poder usufruir da sombra que ela irá proporcionar”.
Simbolismo – No ato de plantio, o estudante Ricardo Henrique Araújo Teixeira fez uma homenagem a Narciso de Medeiros, lembrando passagens do seu histórico profissional e as contribuições para a bananicultura. Outro estudante, Roberto Vasconcelos Reis Filho, refletiu sobre a questão do negro na universidade e a ocupação de outros espaços. Ambos, negros, são alunos do 1º ano de Engenharia Agronômica da Esalq.
Texto: Caio Albuquerque (27/11/2025)


