Equilibrar o nível de fósforo (P) na lavoura é um dos desafios à produtividade atrelada à sustentabilidade agrícola. De acordo o professor Paulo Pavinato, do departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o P é um dos nutrientes mais limitantes ao crescimento de plantas nos solos brasileiros. “Em geral, o problema não é a baixa concentração de P no solo, e sim, a baixa disponibilidade desse P às plantas. Grande parte (cerca de 70%) do P aplicado via fertilizantes (mineral ou orgânico) é acumulado no solo em formas pouco ou não acessíveis às plantas. Este P acumulado ou residual é conhecido como legacy P”.
Pavinato liderou um estudo, que acaba de ser publicado na revista Scientific Reports do grupo Nature, no qual verificou-se que desde os anos de 1960, cerca de 33,4 milhões de toneladas de P foram acumuladas nos solos agrícolas brasileiros. Segundo o estudo, essa quantia representa um acúmulo de 1,6 milhões de toneladas de P por ano nesta última década, e se seguirmos nesse ritmo serão mais de 100 milhões de toneladas acumuladas até 2050.
Manejo – Para os pesquisadores, a adoção de estratégias de manejo como calagem, sistema plantio direto com rotação de culturas, sistemas integrados, variedades melhoradas e inoculação de microorganismos solubilizadores de P podem proporcionar melhor aproveitamento desse P acumulado no solo. “Ações nesse sentido poderiam gerar uma economia de fertilizantes fosfatados na ordem de US$ 20 bilhões nas próximas décadas. Estes números chamam a atenção, e ilustram o enorme potencial que ainda temos para tornar a agricultura brasileira ainda mais eficiente, rentável e sustentável”, complementa o professor Maurício Cherubin, também do departamento de Ciência do Solo, um dos autores do estudo.
O artigo, intitulado Revealing soil legacy phosphorus to promote sustainable agriculture in Brazil, contou com a colaboração de pesquisadores da Bangor University – UK e pode ser acessado em https://www.nature.com/articles/s41598-020-72302-1. A pesquisa contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (#2017/04186-2).
Texto: Caio Albuquerque (20/10/2020)