O mês de setembro foi marcado pela estiagem na maioria das regiões agrícolas do país. Exceções foram os extremos norte e sul, onde o volume de chuva acumulado foi superior à 90 mm e o destaque foi o estado do Amazonas, onde choveu 150 mm (Mapa 1). No centro-oeste a chuva acumulada não passou de 30 mm e ocorreu em apenas em pontos isolados no noroeste do Mato Grosso. No Sudeste, o volume de chuvas variou entre 30 mm e 120 mm, sendo os estados de São Paulo e Minas Gerais quase inteiramente tomados pela seca, assim como ocorreu em praticamente toda a região do MATOPIBA.
Em virtude da restrição de chuvas e das altas taxas de evapotranspiração, o armazenamento hídrico no solo ficou próximo de zero na maior parte do Brasil, exceto nos estados de Santa Catarina, Roraima e parte do Amazonas, onde a umidade do solo foi superior a 45% (Mapa 2). No MATOPIBA e região nordeste, o armazenamento hídrico ficou abaixo dos 15%, com exceção do sul da Bahia, onde a umidade do solo oscilou entre 15% a 30%.
Nas regiões norte, nordeste e centro-oeste as temperaturas máximas oscilaram entre 29°C e 33°C, com destaque para os estados do Mato Grosso, Pará e Amapá, nos quais as máximas foram superiores à 33°C. Em parte do MATOPIBA, as temperaturas máximas também foram maiores que 33°C, com exceção da Bahia, onde predominaram temperaturas máximas abaixo dos 31°C. Temperaturas amenas foram observadas apenas no sul, onde as máximas ficaram abaixo dos 25 °C, na maior dessas regiões. Já no Sudeste, as máximas variaram de 27°C a 33°C, com destaque para o estado de São Paulo, onde os valores foram superiores à 31°C ao longo de praticamente todo o mês de setembro (Mapa 3).
As mínimas foram superiores à 23°C na região norte e no MATOPIBA. Para a região centro-oeste, as temperaturas mínimas oscilaram entre 21ºC e 23 ºC. No Nordeste foram observadas mínimas na amplitude de 16°C a 25°C. A região sudeste apresentou temperaturas mínimas no intervalo de 16°C a 19°C. No Sul, as mínimas foram inferiores à 16°C chegando à 19°C, com a ocorrência de geadas em algumas localidades durante o mês de setembro (Mapa 4). Destaque para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, nos quais as mínimas não passaram de 16°C.
Tempo e agricultura brasileira
O tempo seco dos últimos meses favoreceu a operacionalização da colheita da cana-de-açúcar e permitiu o crescimento da moagem nas usinas. O aumento na produtividade industrial e a quantidade de sacarose, contribuiu para o incremento na produção de açúcar no início de setembro. Contudo, o registro de chuvas abaixo da média na região Centro-Sul nos últimos meses, ameaça reduzir a safra no próximo ano. Ainda, de acordo com as previsões, o fenômeno climático La Niña pode prolongar ainda mais a seca e ameaçar a safra programada para se iniciar em abril de 2021.
No início do mês de setembro a colheita de trigo se iniciou no sul do Brasil e deve se estender até os meses de novembro e dezembro. No estado do Paraná. as primeiras lavouras colhidas não sofreram danos causados pela geada dos meses anteriores, mas sentiram os efeitos da chuva na reta final do ciclo e produziram abaixo do esperado. A partir de setembro, com um risco menor de novas geadas, os riscos ficaram por conta de chuvas na colheita, que podem impactar na qualidade do material colhido e trazer novos prejuízos aos produtores. Apesar dessas situações adversas, o triticultor paranaense deve ter boa rentabilidade boa nesta safra, em virtude da alta do preço do trigo.
O atraso nas chuvas segura o plantio da soja em parte do território brasileiro, uma vez que o vazio sanitário da soja já finalizou e os produtores aguardam o início das chuvas para começar as operações. No estado de São Paulo, Bahia e Maranhão os produtores ainda aguardam uma boa reserva hídrica para poder plantar. No Mato Grosso do Sul as operações de plantio já se iniciaram devido às chuvas registradas nos últimos dias de setembro. Em Goiás, o cultivo da soja deve se iniciar na segunda quinzena de outubro, em virtude de um veranico que pode ocorrer nos primeiros dias do mês.
No Paraná, a situação é mais complicada, devido ao término do vazio sanitário em 10 de setembro e com chuvas esparsas no estado, muitos produtores estão arriscando o plantio no pó, ou com a umidade do solo não favorável, podendo comprometer o desenvolvimento inicial da cultura. Em Santa Catarina, o plantio deve iniciar na segunda semana de outubro, embora nas regiões mais quentes as operações devem começar na primeira semana do mês.
A maioria das lavouras de café foram afetadas pelos meses de chuva abaixo da média e, agora, pelas altas temperaturas. Nesta época do ano, surgem as floradas para a colheita do próximo ano. Entretanto a primeira florada em agosto foi perdida em muitas regiões e as condições para uma nova floração são ruins. Com isso o potencial das lavouras de café é reduzido e aumenta-se o risco de queda da produção no próximo ano. Em contraste com as cenas preocupantes de flores murchas nos cafeeiros brasileiros, o ritmo das exportações do país é recorde, pois as condições mais frias e úmidas favoreceram os cafeicultores no ano passado.
Texto: Caio Albuquerque (02/10/20)