O mês de junho foi marcado por baixo volume de chuvas em grande parte do país, com volumes que inferiores a 30 mm no Sudeste e Centro-Oeste. A região norte do Brasil, em contraste, manteve-se com volumes acima dos 180 mm (Mapa 1).
Com isso, o armazenamento de água no solo caiu abaixo dos 15% nos estados do Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, além de grande parte de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia. Na região sul do país o teor de água no solo variou de 30 a 60%, devido as temperaturas mais amenas e menores taxas de evapotranspiração, favorecendo o desenvolvimento das lavouras de inverno, como o Sul no Rio Grande do Sul (Mapa 2).
O início do inverno foi marcado por baixas temperaturas na região Sul do país, onde as mínimas não superaram 19°C. A entrada de frentes frias no final do mês refletiu na ocorrência de geadas e recordes de temperaturas baixas para o mês de junho nessas regiões. As maiores temperaturas foram registradas no estado do Mato Grosso, onde as máximas variaram de 31 a 33°C (Mapa 3 e 4).
O El Niño e as perspectivas climáticas para o próximo trimestre no centro-sul do Brasil
A fase quente, denominado El Niño, é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pacífico Tropical associada a uma mudança nos padrões de vento em escala global. O El Niño pode afetar o clima regional e global, especialmente os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. A fase fria do fenômeno (La Niña), ao contrário, é caracterizada pelo resfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Alguns dos impactos da La Niña tendem a ser opostos aos de El Niño, mas nem sempre uma região afetada pelo El Niño apresenta impactos significativos no tempo e clima devido à La Niña.
Atualmente, está caracterizado a condição de El Niño de fraca intensidade, com aquecimento de 0,8°C na temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico. Essa condição é definida com base nas temperaturas dos 3 últimos períodos, com 3 meses cada (JFM, FMA e MAM). Com isso, é esperado aumento moderado nas chuvas do Sul do país e menor volume pluviométrico no Nordeste. Porém, este ano os ventos fortes em altitude, chamados de Corrente de Jato, parecem estar mais intensos que o normal e isso pode acarretar que chuvas acima da média cheguem até São Paulo e Mato Grosso do Sul.
A Corrente de Jato, contudo, também traz grande variabilidade espacial na ocorrência das chuvas, o que reduz a assertividade dessa projeção por tornar difícil a previsão da localização das zonas com maior volume de chuvas. Em suma, a projeção geral até o momento é de que há possibilidade de chuvas acima da média em agosto no Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, com migração paulatina para o Rio Grande do Sul, onde as precipitações deverão chegar em bom volume apenas em outubro.
Estudos anteriores também verificaram que não há uma característica marcante no regime hídrico em anos de El Niño nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Assim, não constaram também efeitos diretos do fenômeno na produtividade e fenologia das culturas agrícolas. Por fim, vale ressaltar que o regime hídrico das regiões de influência do ENOS também pode sofrer interferência de outros fenômenos que podem mascarar os seus efeitos. Assim como, os efeitos mais característicos são esperados nas regiões Sul e Nordeste do país.
Em anos de El Niño de fraca intensidade, como é o caso em 2019, espera-se também a entrada de ondas de frio tardias, podendo ser um problema para os canaviais devido a ocorrência de geadas. Segundo o CPTEC, até o momento, não há previsão de ondas de frio acima da média e elas devem ocorrer de forma esparsa. Contudo, no passado, em anos El Niño fraco, já foram observadas ondas de frio entre o final do inverno e início de primavera.
O fenômeno ENOS não tem influência clara e predominante sobre a região Centro-Oeste do Brasil, em que seus efeitos podem variar no espaço e no tempo. Cientificamente, há indicação de que em anos de El Niño, há uma leve tendência de redução na precipitação nos locais mais próximos a Amazônia, que pode ser explicada devido ao enfraquecimento dos ventos alísios de nordeste na Amazônia. Isso pode causar menor entrada de umidade mais ao norte da região Centro-Oeste e também no Brasil Central. Já nas localidades mais ao sul dessa região, espera-se tendência de aumento nas chuvas, que poderia ser explicado pelos mesmos mecanismos que produzem mais chuva na região Sul do país. Para anos de La Niña pode se esperar efeito contrário.
Saiba mais em https://tempocampo.org/