Uma cerimônia simples, mas repleta de simbolismo, promovida no dia 9 de agosto, marcou a inauguração da “Porta do Sino”, localizada na entrada do prédio do Conselho Universitário e onde está instalado o sino doado pela Universidade de Coimbra (UC) à USP na década de 1950.
O sino de bronze foi fundido na cidade de Braga e é uma réplica da “Cabra”, um dos sinos da Torre da UC, datado do século 18, cuja função principal era a de avisar aos alunos sobre os horários de início e término das aulas. O sino foi doado à USP por ocasião das comemorações do quarto centenário da fundação da cidade de São Paulo e estava instalado na entrada lateral do prédio da Administração Central. Após seu restauro, a peça foi transferida, em outubro do ano passado, para a entrada do prédio do Conselho Universitário.
O evento de inauguração contou com a participação do reitor da instituição portuguesa, João Gabriel Silva, que foi recebido pelo reitor Marco Antonio Zago e pelo vice-reitor Vahan Agopyan.
Estiveram presentes à cerimônia os ex-reitores da USP, Waldyr Muniz Oliva, José Goldemberg e Suely Vilela, autoridades consulares e governamentais, diretores de Unidades de Ensino e Pesquisa e Órgãos da Universidade (entre eles o diretor da ESALQ, professor Luiz Gustavo Nussio), professores, servidores técnico-administrativos e alunos. Também participou do encontro um dos ex-alunos da UC que, em 1954, trouxe a réplica da “Cabra” para USP, padre Alípio Maia e Castro.
A música permeou toda a cerimônia. Na entrada do prédio do Conselho Universitário, os convidados tiveram a oportunidade de ouvir uma instalação, criada pelo Núcleo de Pesquisa em Sonologia da USP, que representava, com imagens abstratas, o som do sino. No início e no término da cerimônia, estudantes do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA), Leandro Motta e Marcos Vinícius Vieira (piano), Felipe Vidal (tenor), Ivy Szot (meio-soprano) e Gabriel Feriani (acordeão), apresentaram obras dos compositores Domenico Scarlatti, Ernst Mahle e Henrique Oswald, inspiradas na temática do dobre dos sinos, além da tradicional canção “Coimbra”, imortalizada na voz de Amália Rodrigues.
“A cabra, sino da esperança”
O professor de Literatura Portuguesa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Francisco Maciel da Silveira, fez a saudação inicial e contou sobre o acolhimento fraterno que recebeu dos professores da Universidade de Coimbra quando lá esteve para desenvolver sua pesquisa. Silveira é um estudioso do teatro português clássico e, atualmente, atua em um projeto sobre a literatura e a história portuguesas à luz do teatro.
Em seguida, o cônsul-geral de Portugal em São Paulo, Paulo Lopes Lourenço, ressaltou que o sino representa os “laços indissolúveis das duas Universidades mais representativas de seus continentes”.
O reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, também destacou as relações históricas existentes entre as Instituições e relembrou que a Universidade de Coimbra foi fundada em 1290 e é uma das mais antigas do mundo. Silva convidou os presentes para uma reflexão: “Como é possível que as Universidades se mantenham vivas por tanto tempo?”. Em resposta, o reitor afirmou que “o conhecimento é o que há de mais profundo em uma Universidade e que este é um aspecto intrínseco à sociedade. O conhecimento reflete a mundividência”.
Para o reitor da USP, Marco Antonio Zago, as duas Instituições guardam similaridades quanto a seus propósitos. O dirigente citou que a USP e a UC possuem 594 trabalhos científicos publicados em cooperação, que receberam mais de 15 mil citações. Atualmente, 14 alunos de Coimbra fazem intercâmbio na USP. Em contrapartida, 51 estudantes de graduação da USP estão em Coimbra. “Precisamos fortalecer esse intercâmbio na pós-graduação”, considerou.
Zago encerrou sua apresentação citando os versos do “Fado do Fim do Ano”, de autoria de Fernando Machado Soares: “A cabra quando badala / tem um ar de desengano / Parece que diz à gente / cautela com o fim do ano / A cabra, sino da esperança / Toca no alto da torre / Parece que diz à gente / A juventude não morre”.
Exposição
Na mesma cerimônia, foi inaugurada, no saguão do prédio da Reitoria, uma exposição com 16 fotos históricas sobre a construção da Torre do Relógio, localizada na Cidade Universitária e considerada um dos símbolos da Universidade. A exposição foi organizada pela Secretaria Geral e pela Superintendência do Espaço Físico, com o apoio do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB).
Originalmente, o sino doado pela Universidade de Coimbra seria instalado na Torre. Por razões técnicas, a peça foi instalada, em 1966, ao lado da entrada principal do prédio da Reitoria. O lançamento da pedra fundamental do monumento ocorreu no dia 23 de janeiro de 1954, mas o início efetivo de sua construção só ocorreu por volta de 1972 e sua inauguração, em 1973, na gestão do então reitor Miguel Reale, que idealizou a inscrição que consta em seu piso: “No Universo da Cultura, o Centro está em toda a parte”.
A exposição está aberta ao público em geral e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h. O prédio da Reitoria está localizado à Rua da Reitoria, 374, na Cidade Universitária, em São Paulo.
Texto: Adriana Cruz, da Assessoria de Imprensa da Reitoria da USP