AGROdestaque entrevista Mariangela Hungria (F-1979)

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Engenheira agrônoma conta sobre sua atuação na área de microbiologia do solo (Crédito: Divulgação)
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Atuação profissional
Engenheira Agrônoma formada em 1979, mestra em Solos e Nutrição de Plantas e doutora em Agronomia (Ciência do Solo), além de pós-graduada na Cornell University, Estados Unidos, University of California e Universidade de Sevilla, na Espanha. Sou pesquisadora da Embrapa desde 1982, e na Embrapa Soja desde 1991. Professora e orientadora de cursos de pós-graduação em diversas universidades desde 1991, atualmente orientadora na Universidade Estadual de Londrina (UEL), nos cursos de pós-graduação em Microbiologia e em Biotecnologia e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFTPR), no curso de bioinformática.

A que área ou setor se dedica atualmente? Descreva as atribuições pertinentes ao cargo que ocupa. Qual a importância delas para o mercado?
Desde o final da graduação tenho me dedicado à pesquisa em microbiologia do solo, com ênfase na fixação biológica do nitrogênio. Até a metade da minha carreira a ênfase foi em estudos com as culturas do feijoeiro e da soja. Os sucessos das tecnologias lançadas, particularmente com a cultura da soja e a mudança de estratégia para pensar em sistemas de produção em vez de culturas isoladas, resultaram na expansão dos estudos para o uso de bactérias promotoras do crescimento de plantas com as culturas do milho e do trigo, além de pastagens, com ênfase em braquiárias. O enfoque de pesquisa dado no grupo de pesquisa que coordeno em Londrina tem sido considerado praticamente único, incluindo desde pesquisas básicas até a pesquisa aplicada e transferência de tecnologia. Desse modo, vamos do gene ao produto que estará na fazenda do agricultor e conscientizando esse agricultor dos benefícios proporcionados pelos inoculantes microbianos. Essa trajetória já resultou em mais de 700 publicações (trabalhos, livros, capítulos de livros, publicações técnicas) relacionadas a microrganismos e processos microbianos de importância para agricultura e no lançamento de diversas tecnologias, por exemplo, novas estirpes de rizóbios para a cultura do feijoeiro, novos métodos de inoculação da soja, as primeiras estirpes comerciais de Azospirillum para as culturas do milho e o trigo no Brasil, coinoculação de rizóbios e Azospirillum nas culturas da soja e do feijoeiro, entre outros. Além disso, sempre coloquei grande empenho na transferência de tecnologia, com vários folders, comunicados técnicos, programas de TV, reportagens. O fato de cobrir toda a cadeia dos microrganismos me conduziu a grande reconhecimento internacional, resultando na participação em comitês de projetos da Fundação Bill & Melinda Gates para projetos de fixação biológica do nitrogênio na África (projetos N2Africa e Capacity Building), bem como de projetos na Argentina e no Peru, Espanha, Austrália, França, entre outros.

Quais os principais desafios desse setor?
Com frequência, tempos difíceis também representam uma oportunidade para repensar, sair de uma posição acomodada e arriscar novos desafios. E isso vem sendo observado no setor de inoculantes microbianos. No Brasil, a maior parte dos fertilizantes químicos é importada, com cotação em dólar. Desse modo, com o aumento no custo da produção, a percepção de que é necessário reavaliar os custos desnecessários é cada vez maior.  Com isso, abriu-se uma enorme janela de oportunidades para o uso de microrganismos na agricultura, justificado pelo custo absurdamente inferior dos inoculantes microbianos. Como exemplo, para um hectare de soja, o custo com a compra e aplicação do inoculante com rizóbios é de cerca de R$ 10 por hectare, enquanto que o fertilizante nitrogenado apresenta um custo superior a US$ 1 por kg de N e seriam necessários cerca de 300 kg de N para obter altas produções, de 3000 kg. Extrapolando para a área cultivada no Brasil, só para a cultura da soja a economia estimada pelo processo de fixação biológica do nitrogênio é de cerca de US$ 15 bilhões, o que deve fazer dessas bactérias verdadeiras “heroínas nacionais”. O uso de Azospirillum em não leguminosas como o milho e o trigo também contribui com uma economia de pelo menos 25% na aplicação de fertilizantes nitrogenados o que, em 15 milhões de hectares cultivados, também representa uma grande economia. Além disso, temos a enorme contribuição para a nossa responsabilidade ambiental. As estimativas internacionais são de que a síntese e uso de 1 kg de N-fertilizante equivalem à emissão equivalente a 10 kg de CO2. Desse modo, são milhões de equivalentes de CO2 mitigados pelo uso desses microrganismos na agricultura brasileira, representando um componente muito importante do Programa ABC do governo brasileiro.

Que tipo de profissional esse mercado espera?
Em minha carreira já orientei mais de 60 alunos de pós-graduação e mais de 100 outros tipos de orientação. Um dos maiores orgulhos que tenho é de que, dos alunos de pós-graduação, minha taxa de colocação no mercado atual é de 98-999%. Creio que cabe ao orientador perceber a vocação do aluno o mais breve possível para poder orientá-lo para o mercado e cabe ao aluno no decorrer do curso começar a direcionar seus estudos com a área que mais se identifica.

Entrevista concedida a Ana Carolina Brunelli, estagiária de Jornalismo

26/02/2016

Palavra chave: 
AGROdestaque Mariangela Hungria microbiologia do solo