Em virtude da crise hídrica, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) lançou, durante a Semana de Recepção aos Ingressantes de 2015, o projeto “Água & ESALQ: Racionalizar ou Racionar”. “A ESALQ explorará, a partir desse ano, temas de interesse social, que envolvam a comunidade do Campus Luiz de Queiroz e piracicabana, estimulando reflexões e iniciativas já existentes nas áreas de ensino, pesquisa, extensão e gestão”, explica o diretor da Escola, Luiz Gustavo Nussio.
A proposta da iniciativa é destacar princípios de ciência e cidadania, dando visibilidade às ações que ocorrem tanto na ESALQ, quanto na Prefeitura do Campus e no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), outras unidades da USP em Piracicaba. “Essa iniciativa é muitooportuna porque essa discussão que ocorre no mundo inteiro passa por fases muito semelhantes as quais estamos passando aqui e, em momentos de escassez, o homem precisa se organizar”, avalia Marcos Vinicius Folegatti, professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas e membro da Comissão Organizadora do Projeto Água & ESALQ. De acordo com o professor Folegatti, o projeto é um chamado importante aos alunos da instituição, que serão profissionais com ligação estreita à temática da água. “A ESALQ tem sete cursos de graduação e a todos eles cabe a discussão sobre o tema da água - daí a provocação de fazer com que os alunos entendam esse conceito da bacia hidrográfica, de quanto ela tem disponível, de qual a população que ali vive, quais são as atividades industriais que ali estão inseridas, quais são as atividades agrícolas e como fazer com que essa água atinja a todos esses multiusos de uma maneira justa, que só pode ocorrer se houver uma grande discussão de como colocar a quantia certa para cada atividade”.
Para dar prosseguimento às atividades previstas pelo projeto, em 23/03 foi lançado o site www.esalq.usp.br/agua com o objetivo de unir as informações sobre o tema, oferecendo à comunidade a oportunidade de conhecer e participar de ações de adequação ambiental, eventos técnico científicos e ter conhecimento de pesquisas, dissertações e teses desenvolvidas no Campus que tenham a água como objeto de estudo. O conteúdo do site também apresentará outras novidades, entre elas entrevistas com pesquisadores do campus que trabalham com o tema; divulgação de eventos nacionais e internacionais do assunto Água; registro dos artigos científicos e técnicos já existentes no Campus para que os interessados possam se aprofundar na temática; canal de comunicação com a comunidade para que enviem sugestões/críticas e ideais para incrementar o site e participação nas ações.
“Desafio Água” - Uma das principais metas do projeto “Água&ESALQ” é interagir especialmente com os alunos de graduação, em uma modalidade de desafio que destacará iniciativas em inovação, empreendedorismo e cidadania dentro do tema. O “Desafio Água” avaliará ideias e estratégias para o enfrentamento da crise hídrica. Assim, será lançado, até a primeira quinzena de abril, o regulamento para cada uma das categorias: Frases; Fotos; Vídeos; Projetos a serem implementados, sendo que a categoria Frases também será estendida a toda a comunidade piracicabana.
Outra atividade que foi incorporada ao projeto “Água&ESALQ” ocorre a partir de um convênio acadêmico internacional com a Tokyo University of Agriculture (TUA). Segundo o professor Celso Omoto, que coordena o convênio na ESALQ, a instituição japonesa convidou a Escola a indicar um aluno graduação para participar do evento “15th International Students Summit” (ISS), a ser realizado nos dias 01 e 02 de outubro de 2015, em Tóquio, no Japão. “Trata-se de um evento para discussão de temas ligados a alimento, agricultura e ambiente e como a Diretoria da ESALQ está promovendo ações sobre o tema “Água: Racionalizar ou Racionar”, o trabalho a ser apresentado no evento deverá estar ligado a esse tema específico”, comenta Omoto.
Cena – Presente no lançamento do site do Projeto, a diretora do Central de Energia Nuclear na Agriculta (Cena) da USP falou da importância da iniciativa e lembrou de uma parceria entre o Centro e o Serviço Municipal de Água e Esgoto (Semae) de Piracicaba. “O Semae realiza análise de organizamos que contaminam a água em bicas que são usadas ao ar livre. Fazem rastreamento e monitoramento da qualidade da água e com isso colhem amostras e levam até o Cena para uma análise microscópica de fluorescência”. Segundo a diretora do Cena, o trabalho de coletas e análises mensais inclusive gerou um trabalho de mestrado. “Como muita gente acessa essas bicas para consumo humano, o Semae avisa a população, com a vantagem de que a nossa análise é realizada em tempo real, ou seja, trata-se de uma técnica imediata de leitura”. A intenção é que as informações sobre a qualidade da água nas bicas da cidade estejam também inseridas no site do Projeto. “Temos assim mais uma oportunidade de oferecer essa informação de interesse público. Pretendemos disponibilizar esses avisos para que a população possa ter controle direto sobre a qualidade da água em bicas de Piracicaba”.
Gestão – Aproximadamente cinco mil pessoal consomem, de diferentes formas, a água tratada pela Seção de Captação e Tratamento de água do Campus Luiz de Queiroz. A partir do Rio Piracicaba, manancial que abastece o Campus, a água é coletada, analisada, tratada e distribuída, além de ser usada para irrigação e consumo de animais para. As duas ETAs tratam, diariamente, cerca de 1 milhão de litros de água, além da produção de outros 300 mil litros de água bruta. “Em 2014 tivemos sensível redução da vasão do Rio Piracicaba, o que implicou no aumento de gastos com produtos para tratamento. No entanto, gastamos R$ 500 mil por ano com esse tratamento e, se entrarmos na rede municipal, estima-se um custo por volta de R$5 milhões”, aponta o prefeito do campus, Fernando Seixas. Além do tratamento já executado internamente, Seixas lembra que o uso eficiente da água na USP Piracicaba terá que passar por outro investimento. “Temos uma rede de distribuição de água e esgoto velha, com manilhas de ferro e esse material precisa ser substituído imediatamente. Isso diminuiria a perda e o gasto com pessoal de manutenção, que está constantemente remendando equipamento desgastado pelo tempo”.
De acordo com o gestor do campus, o projeto de substituição da rede implicaria investimento de R$ 35 milhões, mas a proposta é de que o serviço seja executado de forma escalonada. “Sabemos da situação financeira da Universidade, mas mesmo assim os recursos repassados este ano já permitem obras de limpeza de lagoas para que possamos aumentar a capacidade de armazenamento”.
Além disso, na Prefeitura do Campus já existe uma Comissão de Recursos Hídricos composta por professores, alunos e funcionários. Nos últimos dias 17 e 18 de março, a Comissão realizou um workshop sobre o uso da água, reunindo a comunidade interna para acompanhar apresentações e palestras sobre a captação, tratamento e distribuição de água no campus, além de uma oficina sobre captação de água da chuva.
Texto: Caio Albuquerque (27/03/2015)