A banana é uma das principais frutíferas do Brasil. De um modo geral, seu cultivo é praticado sobretudo por pequenos agricultores em zonas de importante preservação ambiental, como é o caso do Vale do Ribeira, extremo sul do Estado de São Paulo. Naquela região, o engenheiro agrônomo Cesar Gonçalves Afonso Frizo identificou quais são os principais obstáculos da bananicultura orgânica, tanto no que tange a conversão quanto ao aprimoramento em bases ecológicas do cultivo da bananeira. “A agricultura orgânica é uma interessante forma de promover a melhoria das condições de vida desses agricultores preservando o ambiente”, avalia Frizo, autor de um estudo desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/EALQ).
Sob orientação da professora Simone Rodrigues da Silva, do Departamento de Produção Vegetal, e coorientação do professor Carlos Armênio Khatounian, do mesmo departamento, Frizo realizou 11 estudos de caso com bananicultores convencionais, orgânicos certificados, e também com produtores que se declaram orgânicos, mas não são certificados. Ao todo, fez seis visitas em cada propriedade, oportunidades nas quais coletou parâmetros agronômicos nos bananais. “Também conduzi entrevistas com os dirigentes das propriedades e com mais de duas dezenas de agentes importantes do sistema produtivo da banana no Vale do Ribeira”.
O autor lembra que todo o projeto foi conduzido dentro da abordagem sistêmica, uma metodologia de tradição francesa, onde busca-se a compreensão do sistema no qual a atividade produtiva está inserida. “Assim observamos o mercado, a geopolítica e as questões sociais regionais, para compreender mais amplamente quais são os gargalos da produção”.
Segundo o estudo, o principal problema da região rumo à conversão orgânica, ao contrário do esperado, não é a questão fitossanitária e a impossibilidade de utilização de agrotóxicos, mas a dificuldade de se obter meios ecológicos de fertilização dos bananais. “O senso comum dos produtores convencionais é de que produzir banana orgânica não é possível por causa da sigatoka. Mas nós observamos que o verdadeiro entrave é a questão da adubação. Um vez que o bananal é adequadamente adubado com meios ecológicos a sigatoka torna-se um problema com o qual é possível conviver”.
Frizo reforça que, paralelamente, a maior parte dos atacadistas receptores da banana da região preferem realizar a etapa da climatização, o que também se configura um problema, pois algumas variedades de bananas mais resistentes às pragas e doenças, que são interessantes de serem exploradas na agricultura orgânica, necessitam de diferentes condições de climatização, e portanto acabam sendo rejeitadas. “Os atacadistas da grande SP normalmente rejeitam os frutos de variedades mais resistentes, principalmente por desconhecimento de como trabalharem com eles. Em contrapartida, no mercado dos orgânicos esses frutos diferentes configuram estratégias de marketing que atraem o consumidor”. Como benefícios ao setor, o agrônomo afirma, ao identificar de forma clara os obstáculos à bananicultura mais sustentável, sua pesquisa permitirá tomadas de decisões técnicas mais precisas. “No final do processo, esperamos contribuir com o desenvolvimento de políticas públicas de incentivo”.
O trabalho recebeu fomento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq).
Texto: Caio Albuquerque (09/03/2015)