Apesar de ser considerada uma atividade em expansão no Brasil, o panorama da ovinocultura ainda não permite sustentar a demanda do mercado nacional. A insuficiência da carne proveniente desse setor obriga o país a importar o produto a fim de abastecer o mercado interno. “A produção de animais adaptados ao clima tropical permite a redução de custos, como é o caso da raça Santa Inês, uma das principais criadas no Brasil, com excelentes características reprodutivas e de adaptação, porém, necessitamos de melhorias na qualidade de carcaça e carne, quando comparadas a outras raças, sendo essas características importantes para a aceitação da carne pelo consumidor”, aponta o professor do Departamento de Zootecnia da Esalq, Gerson Barreto Mourão.
Mourão coordena um projeto temático, desenvolvido com auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que busca identificar informações genômicas a partir do estudo de características de carcaça e de qualidade da carne em ovinos da raça Santa Inês.
“As características de qualidade da carne são difíceis de serem melhoradas pelos métodos clássicos, sendo uma opção a incorporação de informações moleculares para obtenção de ganho genético”, aponta o docente.
Uma das pesquisadoras envolvidas no projeto é a zootecnista Amanda Alvarenga, que chegou em 2015 na Esalq para cursar o mestrado em Ciência Animal e Pastagens e passou a integrar a iniciativa.
“O professor Gerson propôs ingressar no projeto temático que estuda a raça de ovinos Santa Inês. Na literatura há muitos trabalhos associando a genômica às raças de bovinos, suínos e aves, mas com foco em raças brasileiras de ovinos como Santa Inês é novidade. Os únicos trabalhos publicados em revistas internacionais são de um grupo de Pirassununga e daqui da Esalq”.
O estudo conduzido por Amanda está dividido em três partes. Primeiro ela observou o desequilíbrio de ligação, indicador da estrutura genética do genoma de um animal. “Não existem trabalhos na literatura de desequilíbrio de ligação nesta raça e os produtores que objetivam genotipar os animais, deparam-se com densidades de painéis de marcadores variados (baixa, média e alta densidade)”. Segundo a zootecnista, essa variação impacta no valor final e o seu estudo mostra qual seria uma densidade adequada para genotipar os indivíduos Santa Inês. “Com esses parâmetros é possível atingir um melhor custo/benefício relacionado à acurácia/precisão na estimativa do valor genético, por exemplo”.
Eficiência alimentar – Em uma segunda etapa, o trabalho desenvolve uma associação genômica ampla para três características de eficiência alimentar. “Este estudo é fundamental para o melhor entendimento dos mecanismos fisiológicos e genéticos das características em estudo, uma vez que não existem trabalhos na literatura com essas variáveis em ovinos”. Os resultados mostram que, entre as três métricas utilizadas (conversão alimentar, eficiência alimentar e consumo alimentar residual), o consumo alimentar residual é uma boa escolha para a seleção de animais mais eficientes. “Observamos, tanto no nosso trabalho, como em outras espécies, uma herdabilidade ligeiramente maior que as demais métricas”.
Finalmente, Amanda promoveu a seleção genômica para a característica eficiência alimentar, ou consumo alimentar residual. “Não existe trabalho publicado na literatura em ovinos e o uso de informações genômicas apresenta significativos impactos no melhoramento animal tanto no que se refere à acurácia quanto no intervalo de gerações, por exemplo, como relatam diversos trabalhos na literatura da área”.
Contudo, a pesquisadora ressalva que é necessário uma população de referência (um conjunto de animais que permite estimar os efeitos de cada marcador presente no painel de genotipagem) bem estabelecida. “No nosso caso utilizamos 385, mesmo assim verificamos que não foi suficiente. O ideal seria aproximadamente 500 indivíduos para obter uma acurácia de 0,60, informações encontradas em pesquisas de impacto com bovinos”.
O professor Gerson lembra que a seleção genômica prevista no projeto temático avaliará, em seu conjunto, características de qualidade da carne e carcaça. “Estamos mapeando a área de olho de lombo, espessura de gordura subcutânea, escore de marmorização, temperatura, pH, força de cisalhamento, perdas de água por cozimento, coloração, comprimento do sarcômero, índice de fragmentação miofibrilar, teor total de lipídeos e perfil de ácidos graxos, sendo todas as características mensuradas no músculo Longissimus dorsi”.
Finalizado o objetivo de estabelecer a arquitetura genética de características de carcaça e qualidade da carne em ovinos pela identificação de regiões do genoma associadas a estas, o trajeto para atendermos o mercado consumidor brasileiro de carne de ovinos ainda prevê etapas futuras. “Vamos comparar diferentes métodos de predição dos efeitos de marcadores SNPs – marcadores moleculares capazes de detectar mutações e polimorfismos a partir de uma única base no genoma – e estudar o relacionamento multifenotípico entre SNPs e entre as características por meio de análises multivariadas”, antecipa o coordenador do projeto.
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Caio Albuquerque
Mtb 30356 | 08/12/2017