O boletim do Sistema TEMPOCAMPO, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), registrou em março de 2023 volumes de chuva superiores a 240 mm em quase toda a Região Norte, no Maranhão, no Piauí, no noroeste e sudeste de Mato Grosso, e em uma faixa que se estende do norte ao sul do Mato Grosso do Sul. Volumes um pouco menores, mas ainda superiores a 210 mm foram registrados em grande parte de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Ceará. Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro receberam chuvas que variaram de 60 a 90 mm. Algumas áreas de Minas Gerais e do Espírito Santo receberam ainda menos chuva, com no máximo 60 mm. Volumes aquém do esperado, variando de 90 a 120 mm, também foram registrados em boa parte do Rio Grande do Sul. Em Goiás, São Paulo e em grande parte da Região Sul, observaram-se acumulados de chuva de 120 a 180 mm.
Os menores valores de armazenamento de água no solo, inferiores a 15%, foram registrados nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Sergipe e Rio de Janeiro. Em grande parte dos estados mencionados e também em Alagoas e Pernambuco, o armazenamento variou entre 15 e 30%. Em São Paulo e no Paraná, no Piauí e no Ceará, assim como em grande parte de Mato Grosso e no leste do Mato Grosso do Sul, o armazenamento manteve-se, predominantemente, entre 60 e 75%. No Rio Grande do Norte, na Paraíba, e em Goiás, os valores de armazenamento permaneceram entre 45 e 60%. Na maior parte do Mato Grosso do Sul, no noroeste do Mato Grosso e em quase toda a Região Norte, com exceção de Roraima, centro do Amazonas e sul do Tocantins, o armazenamento de água no solo superou 75%.
Nas regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, as máximas variaram de 27 a 31°C. No entanto, nas regiões Norte e Centro-Oeste, bem como na Região Nordeste, predominaram máximas superiores a 29°C, e nas regiões Sudeste e Sul, máximas inferiores a 29°C. Máximas superiores a 31°C foram registradas no Rio Grande do Norte, na Paraíba, no centro do Amazonas, e em áreas isoladas da Bahia e de Roraima. Máximas menores do que 27°C foram observadas no leste do Paraná, no leste e no extremo oeste de Santa Catarina.
As menores temperaturas do país, entre 17 e 19°C, foram registradas em Santa Catarina, no sul do Paraná, em grande parte do território de Minas Gerais e no nordeste de São Paulo. No centro-norte do Paraná, no Rio Grande do Sul, no restante da Região Sudeste, em Goiás e em Mato Grosso, as mínimas variaram de 19 a 21°C. No Mato Grosso do Sul, na Região Norte, com exceção de algumas áreas no Amazonas, onde as mínimas foram superiores a 23°C, e na Região Nordeste, com exceção da Bahia, onde as mínimas foram inferiores a 21°C, as mínimas mantiveram entre 21 e 23°C.
Tempo e agricultura brasileira
A colheita da primeira safra de milho 2022/23 avança, sobretudo nas Regiões Sul e Sudeste. De acordo com o Departamento de Economia Rural do Paraná (DERAL), o milho de primeira safra paranaense está maduro, 9% das lavouras encontram-se em frutificação e 91% em maturação. A maior parte das lavouras do Paraná apresenta bom desenvolvimento e sanidade, 83% das lavouras do Estado desenvolvem-se sob boas condições, 16% sob condições intermediárias e apenas 1% sob condições ruins. No Paraná, a colheita já foi concluída em 63% da área total estimada de milho de primeira safra, e a expectativa é de que sejam colhidas 3,8 milhões de toneladas. Segundo o Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), a produtividade atual estimada do milho de primeira safra do Rio Grande do Sul é de 74 sc/ha, valor 39,5% menor do que o apresentado no início da safra. Produtividade abaixo da esperada tem sido obtida em propriedades que não dispõe de irrigação e que estão localizadas em regiões onde o volume de chuva foi insuficiente para assegurar um desenvolvimento adequado das lavouras. As operações de colheita avançaram lentamente no Estado, concentrando-se em propriedades que dispõem de estrutura própria de armazenamento. Cerca de 2% das lavouras implantadas encontram-se em estádio vegetativo, 5% em floração, 7% já atingiram a fase de enchimento de grãos, 9% encontram-se em maturação, e 77% já foram colhidas. Em Santa Catarina, volumes insuficientes de chuva prejudicaram, principalmente, as lavouras do oeste do Estado, e valores de produtividade abaixo dos esperados têm se confirmado com o avanço da colheita. Cerca de 70% das lavouras de milho de primeira safra catarinenses já foram colhidas. Em São Paulo, em Minas Gerais e na Bahia, 90, 28 e 40% das áreas projetadas, respectivamente, foram colhidas.
A semeadura da segunda safra de milho 2022/23 está na reta final. De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), a semeadura foi concluída em 99,78% da área destinada ao cultivo do milho de segunda safra em Mato Grosso. Cerca de 80% da área foi semeada dentro da janela ideal de semeadura (até 28/02), a maior parte das lavouras desenvolve-se sob condições climáticas favoráveis. O IMEA projeta uma área de 7,42 milhões de hectares cultivados, com produtividade de 104,29 sc/ha, e uma produção de 46,41 milhões de toneladas para a safra 2022/23, valor 5,87% maior do que o obtido na safra anterior. Segundo a Associação dos Produtores de Soja e Milho (APROSOJA), a semeadura foi concluída em 74% da área destinada ao cultivo do milho de segunda safra em Mato Grosso do Sul. As operações de semeadura estão 23 pontos percentuais atrasadas em relação ao mesmo período da safra anterior, devido ao atraso na colheita da soja ocasionado pelo excesso de chuvas no Estado, a umidade do solo elevada dificulta o tráfego das máquinas nas lavouras. A APROSOJA projeta para o Mato Grosso do Sul uma área de 2,33 milhões de hectares cultivados, uma produtividade de 80,33 sc/ha, e uma produção de 11,21 milhões de toneladas na safra de 2022/23. Segundo o DERAL, a semeadura da segunda safra de milho no Paraná também se aproxima do fim. Até o momento, foram semeados 93% de uma área total estimada de 2,5 milhões de hectares. Cerca de 98% das lavouras paranaenses desenvolvem-se sob boas condições e apenas 2% sob condições intermediárias. O atraso da colheita da soja no Paraná levou a uma redução da área total projetada para a segunda safra de milho, devido a impossibilidade de semear o milho dentro da janela ideal. É possível que essa área seja destinada ao cultivo de trigo. Em Minas Gerais, uma parcela significativa das lavouras foi e está sendo semeada fora da janela ideal, o que é especialmente preocupante na região do Triângulo Mineiro devido à diminuição do volume de chuva. Nos estados de Maranhão, Tocantins e Piauí, as lavouras de milho estão, predominantemente, em bom estado.
O Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) manteve em 153 milhões de toneladas a projeção de produção nacional de soja na safra 2022/23. As operações de colheita da soja foram concluídas em cerca de 69% do território nacional. Segundo o IMEA, 99,03% das lavouras de soja mato-grossenses foram colhidas até o momento. A produtividade média estimada para o estado de Mato Grosso é de 61,59 sc/ha, um recorde na série histórica do Instituto. O retorno das chuvas em Mato Grosso, principalmente em dezembro de 2022, foi fundamental para atenuar os efeitos do estresse hídrico registrado em algumas áreas do Estado no mês de novembro. Além disso, a regularidade das chuvas e o longo período de luz também contribuíram para o desenvolvimento do potencial produtivo das lavouras. De acordo com APROSOJA/MS, apesar de o excesso de umidade do solo ter desacelerado o ritmo das operações de campo nas últimas semanas, cerca de 90% das lavouras de soja sul-mato-grossenses já foram colhidas. Em geral, as chuvas bem distribuídas ao longo da safra favoreceram a maior parte das lavouras do Estado, sustentando a produtividade estimada de 58 sc/ha, valor acima do potencial produtivo das últimas cinco safras do Estado. Em Goiás, 86% das lavouras de soja foram colhidas. Bons rendimentos e boa qualidade de grãos tem sido obtidos. No MATOPIBA a colheita da soja também avança, confirmando boas produtividades. O DERAL aponta que a safra de soja deverá ser de 22,2 milhões de toneladas, consolidando-se como a maior safra já produzida pelo Estado do Paraná, representando cerca de 15% da produção nacional. A área semeada também é recorde, totalizando 5,77 milhões de hectares. Cerca de 77% das lavouras de soja paranaenses já foram colhidas. Das lavouras de soja do Estado que ainda não foram colhidas, 92% estão em frutificação e 8% em maturação. É importante destacar que o Paraná é o Estado com o maior número de casos de ferrugem asiática, com 83 ocorrências registradas até o momento. Segundo a EMATER, a estiagem que atingiu o Rio Grande do Sul durante os meses de verão provocou redução de mais de 30% no potencial produtivo da soja, a produtividade atual é estimada em 36,25 sc/ha. Além da redução na produção, também há problemas na qualidade dos grãos colhidos, muitos apresentam maturação forçada, sem o desenvolvimento apropriado. Parte dos grãos está malformada, pequena e com peso baixo, reduzindo a rentabilidade das lavouras. Cerca de 2% das lavouras do Rio Grande do Sul encontram-se nas fases de germinação e de desenvolvimento vegetativo, 10% em floração, 38% em enchimento de grãos, 42% em maturação, e 8% já foram colhidas.
A segunda safra de feijão também avança. A semeadura já foi concluída em todo o território do Paraná, no entanto, é necessário destacar que o atraso na colheita da soja postergou a semeadura do feijão em algumas áreas no sul e no sudoeste do Estado. De acordo com o DERAL, 95% das lavouras de feijão paranaenses estão em boas condições e 5% em situação média. Cerca de 67% das lavouras do Paraná encontram-se em desenvolvimento vegetativo, 27% em floração, 5% em frutificação e 1% em maturação. No Rio Grande do Sul, as chuvas pouco volumosas e mal distribuídas na região do Planalto Médio foram insuficientes para elevar efetivamente a umidade do solo, ocasionando restrição hídrica em lavouras de sequeiro. Altas temperaturas agravaram a condição. Já as áreas irrigadas têm apresentado boas condições e melhores perspectivas produtivas, com algumas lavouras atingindo a fase de enchimento de grãos. Em Santa Catarina, a maioria das lavouras está em desenvolvimento vegetativo, com algumas áreas precoces já na fase de enchimento de grãos, no geral são observadas boas condições fitossanitárias. Em Minas Gerais, as lavouras também apresentam boas condições de desenvolvimento. Na Bahia, como como as áreas produtoras são mais concentradas e as lavouras são predominantemente irrigadas, as operações de semeadura têm sido favorecidas e estão progredindo rapidamente.
Houve um avanço significativo na colheita do arroz no Rio Grande do Sul, as operações de colheita foram concluídas em 50% da área projetada para o Estado. A produtividade estimada permanece satisfatória, cerca de 155 sc/ha, uma vez que as lavouras colhidas não apresentaram problemas de irrigação. As perdas estimadas por déficit hídrico são de, aproximadamente, 5,86%. Também se observa um pequeno atraso no desenvolvimento das lavouras de arroz em relação às safras passadas, devido a problemas de implantação e ocorrência de temperaturas baixas no início do ciclo. Cerca de 9% das lavouras de arroz do Rio Grande do Sul encontram-se na fase de enchimento de grãos e 41% em maturação. Em Santa Catarina, 65% da área semeada foi colhida e 25% das lavouras estão em fase de maturação. Os valores de produtividade obtidos têm variado de acordo com a irrigação realizada durante do ciclo produtivo. As lavouras se apresentam 95% boas, 4% médias e 1% ruim. Em Mato Grosso e Maranhão, as lavouras desenvolvem-se sob condições favoráveis e encontram-se, predominantemente, nas fases de floração e enchimento de grãos. Em Goiás, as lavouras também estão em boas condições e a colheita já foi concluída em 20% da área semeada.
A primeira safra de algodão está em progresso, mas atrasada em relação à anterior. No geral, as lavouras mato-grossenses de algodão desenvolvem-se sob condições climáticas favoráveis. Segundo o IMEA, há perspectiva de aumento de produtividade e projeta-se a produção de 4,82 milhões de toneladas de algodão em caroço e de 2,01 milhões de toneladas de pluma, valores 10,04% e 10,61% maiores do que os registrados na safra passada. No Mato Grosso do Sul, algumas áreas foram afetadas por chuvas de granizo no início de março, mas, em geral, as lavouras têm se desenvolvido bem e com boas condições de umidade do solo. As lavouras de algodão da Bahia também apresentam desenvolvimento satisfatório. É importante destacar que houve uma expansão das lavouras baianas irrigadas e uma retração das de sequeiro. Em Goiás, as lavouras estão em boas condições de desenvolvimento e sem problemas fitossanitários, e encontram-se, predominantemente, nas fases de floração e de formação de maçãs.
Informações Sistema TEMPOCAMPO (3/4/2023)