A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) recebeu nesta terça-feira, 26/5, a visita do pró-reitor de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), professor José Eduardo Krieger. Recepcionado pelo diretor e vice diretor da ESALQ, Luiz Gustavo Nussio e Durval Dourado Neto, respectivamente, Krieger conversou com pesquisadores envolvidos em diversos elos da cadeia de pesquisa em bioenergia. Em entrevista, Krieger falou sobre a necessidade de mapear competências e também de algumas frentes de trabalho da Pró reitoria de Pesquisa.
Essa visita tem como propósito mapear estudos na área de bioenergia?
José Eduardo Krieger (JEK): Estamos procurando alavancar na USP uma plataforma de bioeconomia, que é uma área muito ampla, transversal às diversas atividades que desenvolvemos. Por isso realizamos uma série de conversas com os especialistas que a universidade tem para mapear essa competência e identificar oportunidades para atender demandar externas, seja do setor público ou privado.
Nessa área especifica da bioenergia, a universidade lançou recentemente um programa de formação de doutorado em parceria com Unicamp e Unesp. De que forma esse tipo de iniciativa pode ser ampliada?
JEK: Esse é um novo modelo onde a pesquisa interdisciplinar precisa mapear as expertises e as massas críticas envolvidas, independente de onde elas estiverem. No estado de São Paulo, devido ao aporte de recursos que ocorre há várias décadas, tanto para as três universidades públicas como para a Fapesp e o Instituto Paula Souza, isso criou um ambiente sem precedentes para a formação dessas massas críticas nas mais diversas áreas. A grande dificuldade, o grande desafio, é como podemos atender demandas específicas. Um dos exemplos é o programa Bioen, que além das atividades de pesquisas desenvolvidas, foi formatado para que tivesse inclusive uma pós-graduação interinstitucional. Esse modelo é de sucesso, porque foi pioneiro e hoje estamos tentando fazer com que ele se repita em outras áreas.
Em quais áreas podemos visualizar a aplicação desse modelo?
JEK: Existem projetos na área de astronomia, por exemplo. São investimentos em grandes telescópios, alguns ainda a serem construídos, onde a comunidade paulista vem participando de maneira muito importante. Então, é quase que natural que você não fique limitado aos programas de pós-graduação de uma instituição porque você pode ter especificidades que estão em uma ou outra instituição e isso pode ser, de certa maneira, colocado à disposição. Também com a questão do pré-sal, a cidade de Santos foi inserida no mapa do setor em termos dos olhares especialmente do Governo Federal e da Petrobras e isso está gerando oportunidades. Então as três universidades paulistas estão envolvidas em um projeto junto com o governo do estado e a cidade de Santos para desenvolver um centro tecnológico. E, de novo, você pode imaginar a formatação de um curso interinstitucional, com a mesma filosofia de como pegar essa massa crítica para atender cada vez mais as demandas específicas.
Nessa época de ajuste financeiro, o que pesquisadores e docentes podem fazer para garantirem o desenvolvimento pleno de suas pesquisas sem serem afetados tanto pela restrição orçamentária?
JEK: Essa crise financeira não só nos pegou enquanto gestores da USP, mas como pesquisadores e como cidadãos. Creio que sempre temos que olhar isso de várias maneiras. A primeira, talvez até pela natureza de quem está fazendo pesquisa, é a oportunidade. De maneira geral existe gordura nos processos, então é uma hora de você parar e perguntar “será que estou fazendo a coisa certa?”, “será que ao invés de ter uma pós-graduação posso ter uma que envolva várias instituições?”, “será que posso racionalizar instrumentos? Se gasto dois, será que posso fazer mais gastando um?”. Então, todos nós estamos preocupados, mas se alguém vem com uma boa ideia para racionalizar algo na época da bonança, você fala “legal, mas vamos dar uma olhada nisso no próximo semestre”. Hoje não temos próximo semestre, temos que olhar isso agora. Acho que dadas as condições, e se a crise não perdurar muito, ela pode até ser benéfica do ponto de vista de aproveitamento de oportunidades.
Que linhas de trabalho a PRP tem privilegiado?
JEK: A USP tem um papel muito importante na produção de recursos humanos, mas diria que o pró-reitor de pesquisa que estiver ocupando esse chapéu deve tomar ciência de que a grande preocupação é como disponibilizar para o pesquisador - somos 6 mil docentes na USP - todos os recursos de infraestrutura que temos. Por isso, com a cabeça de pesquisador precisamos avaliar como é que esses recursos são disponibilizados para a comunidade. O segundo ponto é que, partindo de um local onde se tem os melhores pesquisadores, evidentemente que a excelência é a moeda que temos e, portanto devemos encontrar vias para estabelecer a meritocracia para todas as atividades da Pró reitoria. Em um edital, por exemplo, ao invés de pedir o currículo lattes, podemos solicitar as cinco principais publicações. Nós temos uma capacidade muito grande de trazer recursos externos, mas a gestão desses recursos é feita de diversas maneiras. Há casos em que o pesquisador mesmo gerencia, outros há uma secretária, em outras unidades o processo é mais elaborado e isso temos que ser remodelado. É preciso que o pesquisador gaste seu tempo em atividade fim e o mínimo possível nas atividades meio. Esse é um outro desafio que qualquer pró-reitor da USP tem que alinhar esforços para que isso se torne cada vez mais realidade.
Texto: Alessandra Fáveri Postali (estagiária de Jornlaismo) | Revisão: Caio Albuquerque | 26/05/2015