Denominadores comuns na visão de ambientalistas, ruralistas e especialistas em relação ao desenvolvimento da produção versus conservação da natureza no Brasil podem ter um peso maior do que o percebido pela opinião pública. E a tendência é que o consenso em torno de ambições e progressos para equilibrar a agropecuária e a conservação se ampliem, de acordo com um artigo publicado na última edição da publicação científica Biofuels,Bioproducts and Biorefining (Biofrp).
Coordenado pelo professor Gerd Sparovek, do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), o artigo “Bioprodutos Sustentáveis no Brasil: disputas e concordâncias de uma agenda comum para agricultura e proteção da natureza”, publicado na edição de março da Biofrp, explora uma discussão estruturada entre especialistas ligados à pecuária, agricultura, florestas plantadas e carvão vegetal, ONGs que trabalham com conservação e com comunicação para desenvolvimento. E conclui que a maioria das ações citadas concilia a produção e a conservação, apesar de haver um aparente conflito entre os dois objetivos. Segundo Sparovek, o embate entre ambientalistas e ruralistas “em certa medida, se tornou um fim em si mesmo”.
Apesar dos brasileiros haverem se acostumado a assistir embates como o da revisão do Código Florestal em 2012, que provocou grandes batalhas verbais no Congresso entre ruralistas e ambientalistas, as últimas décadas trouxeram melhorias de produtividade e eficiência no campo, houve grandes reduções no desmatamento da Amazônia e crescimento da produção com certificação ambiental.
Ao colocar lado a lado os especialistas de diferentes áreas, os pontos de vista assumidos por cada um foram classificados em categorias que variam desde os interesses comuns – que consideram o desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira, até aos que servem à sustentação da disputa, onde as opiniões são opostas, passando pelos interesses exclusivos de conservação e exclusivos da produção.
Ao final de várias discussões, foram analisadas as ações propostas pelos participantes que beneficiavam conservação e/ou produção e as que não beneficiavam nenhum dos objetivos envolvidos. Ou seja, apenas serviam para alimentavam o debate, sem garantir melhora na produção ou conservação. E os interesses comuns, que resultam no desenvolvimento sustentável do setor, se mostraram mais numerosos, indo desde a intensificação da produção pecuária, que reduz a necessidade de expansão da área de produção e de emissões de gases que provocam o efeito estufa (GEEs) até o compromisso assumido de cumprimento das leis ambientais.
Para Sparovek, “O estudo pode estimular uma forma mas positiva de debate sobre o tema da conservação da natureza e o desenvolvimento da produção agropecuária. Ressaltando e delimitando as conquistas já alcançadas no interesse comum do desenvolvimento sustentável, podemos evitar que esta agenda positiva seja sacrificada por interesses setoriais imediatos ou pelo fomento da disputa como um fim em si mesma”.
Leia o estudo na íntegra (em inglês).
Texto: Cassuça Benevides - Quartzo Comumicações