Dentro da Universidade de São Paulo (USP), a integração entre a comunidade acadêmica e o setor produtivo tem se revelado um modelo exemplar, promovendo tanto o aprimoramento da formação dos profissionais formados na USP quanto o desenvolvimento de soluções tecnológicas eficazes.
Um exemplo marcante dessa colaboração é a parceria entre a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e o Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef). Esta sinergia teve início na década de 1960 e resultou, entre outras coisas, em um valioso acervo genético de espécies exóticas, contribuindo significativamente para o aumento da produtividade das florestas plantadas e aprimorando a qualidade da madeira utilizada em diversas aplicações industriais.
Os resultados dessa colaboração são evidenciados por meio de inúmeros experimentos conduzidos nas duas Estações Experimentais de Ciências Florestais da Esalq, localizadas em Anhembi (cerca de 600 ha) e Itatinga (2.400 ha). Esses espaços nobres da universidade têm deixado um legado notável para a sociedade, sendo passagem essencial para uma grande parcela dos 1200 engenheiros florestais e aproximadamente 700 mestres e doutores em Recursos Florestais formados na Esalq. Esses profissionais adquirem experiência em diversas áreas da silvicultura, incluindo ecologia, hidrologia, restauração florestal, melhoramento genético e manejo, entre outras.
Destaca-se ainda que essas estações se tornaram referência mundial em acervo genético de eucalipto, abrigando 110 populações de 36 espécies. Além disso, continuam desempenhando um papel fundamental na formação de recursos humanos de excelência e servem como um vasto laboratório para o setor florestal, incluindo trabalhos de extensão aos produtores.
Para celebrar essa parceria, foi recentemente lançada a obra "Recursos genéticos de eucalipto nas Estações Experimentais de Ciências Florestais da Esalq: usos e manutenção". Escrita por pesquisadores do Ipef e da Esalq/USP, a publicação oferece um relato detalhado do trabalho realizado em cada uma dessas estações, sobre os esforços para preservar e ampliar os recursos genéticos, além de compilar informações sobre as espécies com ampla base genética e aquelas que necessitam de enriquecimento nessas estações.
“Resultado de uma parceria de sucesso entre universidade e setor produtivo, essa publicação traz detalhes de um acervo fundamental para o enfrentamento dos desafios globais na área florestal”, declara a diretora da Esalq, professora Thais Vieira.
José Otávio Brito, Presidente do Ipef, também destacou a importância da publicação. “Nesta publicação, fica registrado um dos mais importantes legados da colaboração entre o Ipef e a Esalq/USP, consolidada, independentemente das alterações ocorridas nos modelos e nos atores envolvidos na sua construção, ao longo do tempo. É uma honra fazer parte desta história”.
Luiz Carlos Estraviz Rodriguez, chefe do departamento de Ciências Florestais, reforçou o papel das estações experimentais. “As nossas estações experimentais florestais são guardiãs de coleções bastante diversas de material genético de espécies florestais, principalmente aquelas que tem sido a principal razão do sucesso da nossa indústria de base florestal”, disse.
Este trabalho adquire relevância especial diante dos novos desafios enfrentados pela silvicultura nos dias atuais, como as mudanças climáticas e as crescentes exigências de qualidade da matéria-prima. Os programas de melhoramento genético devem adaptar-se a esses desafios, buscando novos materiais que podem ser encontrados na diversidade de espécies presentes nas estações e na variabilidade das populações trabalhadas na parceria USP/Ipef, sempre visando a sustentabilidade de longo prazo do setor florestal.
Texto: Caio Albuquerque | Mtb 30356 | 29/02/2024