Para atender a demanda mundial, é possível saber quanto teremos que produzir de cana-de-açúcar em 2024? No setor sucroalcooleiro existe o impasse para onde projetar seus investimentos: mais terra ocupada ou mais produtividade? Em qual medida?
Um estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) em parceria com a Embrapa e a Universidade de Nebraska avaliou a eficiência agrícola da cana no Brasil afim de determinar o grau de crescimento da produção canavieira sem a necessidade de dispor de mais terras. O autor da pesquisa é o professor Fabio Marin, do Departamento de Engenharia de Biossistemas, que publicou o estudo na edição de fevereiro de 2016 da BioScience, da Universidade de Oxford “ O artigo traça cenários para a produção de cana-de-açúcar considerando a demanda projetada para 2024, contatando a necessidade de forte expansão na área cultivada com cana no Brasil”, aponta Marin.
Segundo a pesquisa, o rendimento médio nacional atual é de 62% do potencial de produção estimado para condições de sequeiro, ou seja, existe uma oportunidade de incremento de 38%. “O desafio é aumentar a produtividade da cana existente dadas as preocupações sobre a conversão de pastagens e floresta para cortar a produção e a crescente demanda mundial de etanol de cana”. A projeção indicada pelo estudo tenta encontrar o nível em que a taxa de ganho de rendimento deverá ser acelerada considerando a trajetória de rendimento das duas últimas décadas, para que se obtenha, em 2024, uma maior produção de cana sem a expansão da área de produção. “Considerando a taxa histórica de ganho de rendimento, não será suficiente para atender a demanda projetada sem uma expansão de área de 5% a 45% para cenários de baixa e alta demanda, respectivamente”, explica Marin.
No entanto, se fosse possível resolver as limitações que impedem e prejudicam o rendimento e atingirmos uma produtividade de 80% do nosso potencial, atenderemos a demanda de cana em um futuro próximo, com uma redução de 18% na área de cana para o cenário de baixa demanda ou uma expansão de 13% para o cenário de alta demanda. “É possível, mas esse cenário exige uma grande aceleração na taxa rendimento em comparação com a tendência histórica, o que seria difícil de conseguir sem esforços de financiamento concentrado nessa problemática”. Em contrapartida, alerta o docente, “se continuarmos a aumentar os rendimentos seguindo a trajetória histórica das últimas duas décadas, será necessário expandir entre 5% e 45% a área de cana para satisfazer os cenários de baixa e de alta demanda até 2024”.
Como indicativo, o estudo aponta a necessidade de focar os esforços de pesquisa na aceleração do ritmo de ganho de produtividade para minimizar a demanda por terras. “Os resultados deste estudo podem ajudar a fomentar as políticas e a priorização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento para atender à demanda de cana e, ao mesmo tempo, considerar as preocupações ambientais associadas”, finaliza Marin.
O estudo teve apoio do Water for Food Institute (University of Nebraska–Lincoln), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).