Homenagem ao professor João Walter Simões

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João Walter Simões adorava plantar árvores, como essa samaúma, plantada por ele em 1965, próxima ao Pavilhão de Horticultura (crédito: Gerhard Waller)
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Faleceu neste domingo, 20 de agosto de 2017, o Sr. João Walter Simões, docente aposentado do Departamento de Ciências Florestais (LCF). O velório e o enterro aconteceram no mesmo dia, domingo, 20 de agosto de 2017.

Em junho de 2014, a edição nº 36 do boletim ESALQ notícias trouxe uma entrevista com o professor no Projeto Memória, reproduzida abaixo.  O docente foi ainda primeiro entrevistado da versão em vídeo do Projeto Memória, produção da TV USP Piracicaba. Assista .

ESALQnotícias | Edição nº 36 | Junho de 2014 | Projeto Memória

“Meu limite é o horizonte”

Nascido em 2 de julho de 1938, na zona rural de Piratininga (SP), na região de Bauru (SP), João Walter Simões foi criado na fazenda. Cresceu ao lado de vários primos, acostumado com as atividades de agricultura e pecuária. “Toda minha infância eu vivi longe da cidade, meu pai era lavrador e, por isso, vivenciei e peguei gosto pela vida na natureza. Sou caboclo assumido e aprendi muito das lides rurais, daí a preferência pela agronomia. Por viver sempre em contato com a natureza, eu não sirvo para viver ou trabalhar em ambientes fechados. Meu limite é o horizonte”.

João gostava de agronomia, mas não tinha informação sobre a existência de um curso. Em 1957, quando ainda cursava o científico no colégio “Ernesto Monte”, em Bauru (SP), encontrou um folheto de divulgação da ESALQ. “A vocação existia, só faltava saber da Escola. Assim, juntei a fome com a vontade de comer e estava decidido a cursar Engenharia Agronômica, mas como fazer o cursinho vestibular?”. Segundo Simões, só havia cursos preparatórios em São Paulo e o ex-menino da fazenda seguiu para a capital do Estado. “Para sobreviver em São Paulo, trabalhava no Banco do Povo S.A., mas o expediente bancário conflitava com o do cursinho. Então comprei, em um sebo, lá no Viaduto do Chá apostilas referentes às disciplinas e voltei para a fazenda. Estudava sozinho”. Em 1959, veio de trem prestar o vestibular. “Eu vim de trem para fazer o vestibular, de Duartina até Rio Claro e de lá pegávamos uma jardineira, em estrada de terra, para chegar em Piracicaba”. Foi aprovado em terceira chamada. Em Piracicaba, morou em uma pensão no centro da cidade. “Morei na esquina da rua XV de Novembro com a São João”. Durante a graduação, foi agraciado com uma bolsa de estudos da empresa norte-americana Anderson Clayton. “Durante os cinco anos do curso, a bolsa me imbuia também do compromisso de fazer estágio de férias nas fazendas com cultivo de leguminosas para a produção de óleos vegetais; na época, de amendoim e algodão, soja nem se plantava”.

O contato com essas culturas direcionou sua formação e cursou a diversificação (nomenclatura usada para especialização) em Fitotecnia. “Como gostava de todas as culturas, assistia também as aulas de Silvicultura”. No último semestre de 1963, o colega Pieter Willem Prange, que estagiava na então 22ª Cadeira, de Silvicultura, foi o encarregado de um recado muito especial e definitivo. “Ele me deu o recado do professor Helládio do Amaral Mello, então chefe daquela Cadeira, para ir falar com ele. Assim, fez-me o convite para assumir como docente em uma das recém-criadas vagas nessa cátedra ainda em formação. E lá estava uma na qual me encaixava: Reflorestamento, ou seja, plantação de árvores para produção de madeiras. Como fitotecnista, fiquei bastante confortável naquilo que sempre foi minha vocação, trabalhar a terra e cultivar plantas”.

Em março de 1964 foi contratado pela USP e, durante as três décadas como docente, foi responsável por inúmeras atribuições, acadêmicas e administrativas. Foi encarregado do setor de Manejo Florestal do Departamento de Ciências Florestais (LCF), coordenando disciplinas de graduação e de pós-graduação. Entre 1979 e 1984 foi chefe do Departamento e, no biênio 1989-90, atou como diretor da Divisão de Administração da Prefeitura do Campus da USP em Piracicaba. Em dois períodos, entre abril de 1979 e março de 1983 e entre novembro de 1992 e março de 1994, foi diretor científico do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef). Durante sua trajetória, destaca-se ainda o trabalho de desbravador e instalador dos experimentos na Estação Experimental Florestal em Anhembi. “Participei dos primeiros plantios de eucalipto, em 1974, e nos vinte anos sequentes. Hoje temos árvores lá com 40 metros e 60 cm de diâmetro!”.

Prestou consultoria e ministrou cursos de pós-graduação em países como Colômbia, Bolívia, Nicarágua e Cuba. Aposentou-se em 1994 e, em 2013, completou seu cinquentenário de formatura. “Durante a cerimônia comemorativa dessa data, fixamos uma placa em uma samaúma - a maior árvore da Amazônia - plantada por mim, em 1965, próxima ao Pavilhão de Horticultura”.

Aos 75 anos, João Walter Simões continua trabalhando, hoje como pecuarista nas terras onde cresceu, em Piratininga. “Brinco com os meus colegas que, se agora tivesse que cursar uma faculdade, escolheria novamente Agronomia. Sou agricolão, de nascença e por convicção”. Nas horas vagas, faz talvez o que mais gosta: planta árvores. “Acabei de plantar aqui no campus, em frente ao restaurante dos docentes, uma muda robusta de jaracatiá, árvore rara, que produzi no meu quintal”.

Texto: Caio Albuquerque (21/08/2017)

 

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