Esta 5ª reportagem da série “O Solo Nosso de Cada Dia” é dedicada a apresentar a origem dos solos e a área responsável por estudar a sua existência. Para isso, conversamos com Antônio Carlos de Azevedo e Pablo Vidal Torrado, professores do Departamento de Ciência do Solo da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), falaram um pouco sobre geologia e mineralogia, áreas que formaram cadeiras que geraram o departamento e contribuíram para sua ampliação.
Na vida, quando desejamos aprimorar conhecimento e desvendar os detalhes, devemos conhecer a essência de nosso objeto de estudo, para então compreender sua importância e expandir o aprendizado. Com a ciência dos solos o processo não é diferente. Antônio Azevedo dedica suas pesquisas às rochas e identificação de minerais (matérias responsáveis pela origem dos solos) e Pablo Vidal estuda minunciosamente a formação, classificação e como o solo se modifica na paisagem.
“Ao ser exposta na superfície, a rocha entra em contato com a água, que influenciada pelo CO2 torna-se ácida, destrói seus minerais e da origem ao solo”, explica Vidal. Cinco fatores são responsáveis pela formação e mudanças do solo: material de origem, clima, relevo, organismos e tempo. “Quando todos esses fatores se integram, a diversidade de solos surge. A chuva e o sol favorecem as transformações de rochas em solos e, o mesmo acontece em relação ao relevo, que em lugares mais planos a infiltração da água é maior e, consequentemente, as formações de solos também, diferentes de lugares mais inclinados”.
A ciência do solo, que antigamente era voltada apenas para resolver problemas da agricultura, hoje, é fundamental na solução dos impactos ambientais. Contaminação, poluição, até o efeito estufa, todos estão ligados de alguma forma ou ocorrem no solo. “O principal reservatório de carbono global é o solo, então é essencial manejar bem para que o CO2 continue armazenado”. Vidal ainda acrescentou: “Procuramos entender quais solos são mais frágeis e mais resistentes a esses problemas”. O docente ressalta a importância da Pedologia, que visa compreender os processos de formação, melhorar a classificação, conhecer melhor o solo de diferentes ecossistemas e intensificar a transferência de tecnologia de informação na agricultura.
No departamento, Azevedo é responsável por duas linhas de pesquisa: Saprolito e Rochagem. O Saprolito é a zona localizada na superfície da Terra, constituída pela alteração das rochas, sendo a origem de vários dos nutrientes que aparecem nos solos. “Toda água que infiltra no solo e vai em direção aos reservatórios subterrâneos, passam por essa zona”, contou.
Nessa região, as transformações são ocasionadas pelo intemperismo, que a partir de ações mecânicas, químicas e biológicas desintegram e auxiliam na degradação das rochas. “Nesse caso, as rochas são formadas em grande profundidade pelo resfriamento do magma, e os minerais que se formam nesse processo, são minerais que estão em equilíbrio com ausência de luz, pressão alta e confinamento”. Considerando essa afirmação, o professor ainda acrescenta que quando essas rochas, devido aos processos geológicos, se posicionam mais próximas à superfície, os minerais nessa condição não são mais estáveis e começam a se transformar em outros minerais, formando os solos e participando do ciclo dos nutrientes.
A segunda linha de pesquisa, Rochagem, é responsável por repor a perda de elementos químicos no solo ocasionada pela colheita ou infiltração da água da chuva. A rochagem é utilizada por agricultores orgânicos como insumos agrícolas, alternativa que substitui os fertilizantes industriais. “Um remineralizador é feito a partir de rochas moídas e peneiradas, fazendo parte de uma política dos ministérios da Agricultura, da Ciência e Tecnologia e de Minas e Energia, que procuram fontes alternativas de nutrientes para as plantações no campo.” Em seus estudos, Azevedo analisa a atuação de alguns remineralizadores no solo, a eficiência e a possibilidade de contribuírem na redução do uso dos fertilizantes sintéticos.
As mineradoras são grandes aliadas na pesquisa do departamento e também na agricultura, pois disponibilizam subprodutos (reminalizadores) que não podem ser reutilizados por elas, mas que nos solos agrícolas podem surtir efeitos positivos. “Normalmente o material recebido possui vários nutrientes, mas se dissolvem muito lentamente, por isso não conseguem satisfazer completamente a necessidade de nutrientes de uma cultura de alta tecnologia, sendo mais indicados na agricultura familiar e orgânica”, ressaltou Azevedo.
O Grupo de Pesquisa em Mineralogia do Solo, coordenado por Azevedo, realiza estudos e aplicações de pós de rocha no solo em propriedades agrícolas com regime de produção comercial. Procuram trabalhar em conjunto com mineradoras e produtores rurais e avaliam os seguintes elementos: ajustes no processo de britagem, maximização da liberação dos nutrientes e identificação de cenários apropriados para o uso da rochagem.
Além das linhas de pesquisa, Azevedo ainda coordena o projeto “Solo na Escola”, que recebe estudantes de ensino médio, técnico e alunos de universidades da região para disseminar a importância dos solos. “Um país tão grande e que depende tanto da agricultura tem que conhecer o seu solo”, concluiu o professor.
Texto: Ana Carolina Brunelli | Revisão: Caio Albuquerque (16/12/2015)