Como consequência do panorama de mudanças climáticas, o clima de Piracicaba está mudando. Um estudo desenvolvido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) indica que entre 1916-2016 a temperatura média no município registrou elevação de 0,9ºC.
Essa alteração é suficiente para o clima local ter alterado a sua classificação de Cfa (subtropical úmido, com clima oceânico, com ausência de estação seca e com verão quente) para Aw (clima tropical com inverno seco).
O estudo, intitulado Southeastern Brazil inland tropicalization: Köppen system applied for detecting climate change throughout 100 years of meteorological observed data, foi publicado na revista Theoretical and Applied Climatology. O artigo conta com autorias dos pesquisadores Clayton Alcarde Alvares, Paulo Cesar Sentelhas e Henrique Boriolo Dias. O trabalho foi inicialmente concebido por Paulo Cesar Sentelhas, professor titular do departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq, que infelizmente faleceu em 2021 enquanto o artigo estava em processo de revisão científica na revista internacional.
Dados – Para avaliar as mudanças no clima de Piracicaba e chegar a essa conclusão, os pesquisadores utilizaram o sistema de classificação climática mais empregado por cientistas do ramo da climatologia, geografia, ecologia, e agrometeorologia, desenvolvido por Wladimir Köppen em 1894. Na prática, utilizaram dados registrados durante 100 anos no posto meteorológico “Professor Jesus Marden dos Santos” (www.leb.esalq.usp.br/posto), localizado na Esalq.
Trabalhando em conjunto com o Professor Sentelhas, Clayton Alvares e Henrique Dias, ex-alunos de cursos de graduação e pós-graduação da Esalq, organizaram e consistiram a base de dados meteorológicos do posto. Os autores utilizaram médias móveis de 30 anos para detectar eventuais mudanças. “Esse é o período sugerido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) para caracterizar uma normal climatológica”, explica Clayton.
A temperatura média anual em Piracicaba apresentou um incremento de 0,9 °C entre 1917 e 2016, passando de 21,4 °C registrados durante a primeira normal climatológica (1917-1946) para 22,3 °C para o último período analisado (1987-2016). “No caso da precipitação, não houve um padrão claro de aumento ou diminuição dos volumes de chuva anual”, complementa o pesquisador.
Clayton observa ainda que esses indícios de mudança no clima foram também observados em níveis regionais. “Dados de bases de clima no interior do Estado de São Paulo e da América do Sul apontam para forte tendência de “tropicalização” da região”.
Agricultura – O aumento na média da temperatura e outros fenômenos ligados às mudanças climáticas têm despertado a comunidade científica para os efeitos sobre as atividades econômicas, entre elas a agricultura. “Das atividades econômicas, a agricultura é sem dúvida aquela com maior dependência das condições do tempo e do clima. Compreender o impacto do clima e variabilidade nas atividades agrícola, pecuária e florestal é fundamental para uma produção sustentável. No contexto de mudança de clima de um local ou região, já verificadas em vários estudos e com projeções nada animadoras, a produção e alimentos, fibras e energia tornar-se-á ainda mais desafiadora e isso precisa estar na agenda dos diversos agentes da sociedade de Piracicaba e região”, finaliza Clayton Alvares.
Os dados do posto meteorológico da Esalq podem ser acessados em: http://www.leb.esalq.usp.br/posto/
Acesse o artigo na íntegra em: https://link.springer.com/article/10.1007/s00704-022-04122-4
Texto: Caio Albuquerque (10/11/2022)
