Júlia Silva Morosini e Fernando Garcia Espolador, ambos doutorandos no programa de Genética e Melhoramento de Plantas, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), realizam intercâmbio na University of Wisconsin-Madison (EUA). Sob orientação da professora Natalia de Leon, as teses dos doutorandos envolvem o estudo de milho tropical. Na Esalq, as teses tem orientação do professor Roberto Fritsche Neto, do departamento de Genética.
Júlia desenvolve trabalhos relacionados à genética quantitativa, ou seja, analisa os componentes da herança das características sob uma abordagem estatística. Fernando está focado no estudo de diversidade do milho tropical, buscando entender como ele se caracteriza do ponto de vista fenotípico (o que vemos da planta) e genotípico (a informação contida no DNA).
Os estudantes foram selecionados para apresentarem oralmente seus trabalhos na Corn Breeding Research Meeting, evento que ocorre anualmente nos Estados Unidos e reúne pesquisadores de melhoramento de milho de instituições públicas e privadas. “Foi uma experiência muito gratificante. Pudemos ver o que há mais de novo na área e ainda tivemos o privilégio de apresentar nosso trabalho. Todas as discussões decorrentes foram muito prolíficas”, comenta Fernando.
Conforme explicam os pesquisadores, o milho plantado nas regiões tropicais é derivado de materiais temperados, ou seja, plantas de milho que foram crescidas e adaptadas ao hemisfério norte. “Apesar do desenvolvimento razoável e dos bons índices de produtividade que vem sendo alcançados no Brasil, ainda há muito a ser explorado geneticamente no milho, o que representa potencial para elevação substancial da produtividade e adaptabilidade às regiões tropicais, como o Brasil e o continente Africano”, detalham.
Os programas de melhoramento de milho baseiam-se na exploração de um fenômeno chamado Heterose ou Vigor híbrido, que ocorre quando a progênie apresenta performance superior à média dos pais. Por exemplo: para a produtividade, que é o caráter de maior interesse agronômico, a heterose se dá quando a progênie produz mais que a média de produção dos pais. Para maximizar a manifestação deste efeito, os pais precisam ter baixo grau de parentesco, ou seja, serem geneticamente distantes um do outro. Segundo Julia é fundamental dividir o conjunto de linhagens/pais em grupos, os quais denominamos Grupos Heteróticos. Seu trabalho tange especificamente como o germoplasma tropical ainda está em construção e não apresenta estes grupos bem definidos. “Estudamos modelos que forneçam os melhores agrupamentos do ponto de vista genético”, conta. Fernando, por sua vez, identifica a caracterização do germoplasma tropical com base nas informações de marcadores moleculares.
Ainda, insere-se no contexto destes trabalhos a deficiência de nitrogênio (N), uma grande restrição para a produtividade do milho especialmente em regiões tropicais. Os doutorandos identificaram que o agrupamento de pais feito em condição de estresse por nitrogênio não é o ideal para ser usado em condição sem estresse, pois leva a uma sub-exploração da heterose. Por este trabalho, Júlia ganhou o prêmio 2º lugar no ASTA's CSS Poster Presentation Contest 2019, a maior congregação de profissionais de melhoramento nos EUA. O evento ocorreu em Chicago-IL, entre 9 e 12 de dezembro de 2019. “Receber este prêmio foi uma enorme satisfação e um momento marcante em minha carreira. O intercâmbio tem nos possibilitado trabalhar intensamente diversas habilidades, e esse trabalho é fruto disso”, comenta Júlia.
O trabalho conduzido por Júlia tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), enquanto Fernando tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
Texto: Caio Albuquerque, com informações de Julia Morosini (10/02/2020)