Há alguns meses, 8 jovens conservacionistas de todo o mundo foram nomeados para a premiação do renomado Future For Nature. Os finalistas eram do Brasil, Índia, Nepal, Holanda, Nigéria, Filipinas, Ruanda e Reino Unido. Hoje, os três vencedores do prêmio foram anunciados; Fernanda Abra (Brasil), Nsengimana Olivier (Ruanda) e Divya Karnad (Índia).
A Fundação Future For Nature (FFN) é uma organização holandesa que apoia jovens, talentosos e ambiciosos conservacionistas, comprometidos com a proteção de animais e plantas silvestres. A FFN afirma que “O compromisso desses indivíduos é o que fará a diferença para o futuro da natureza. Por meio de sua liderança, eles inspiram e mobilizam comunidades, organizações, governos, investidores e o público em geral.”
Todos os anos, três prêmios estão disponíveis para jovens conservacionistas de todo o mundo. O Prêmio oferece aos vencedores reconhecimento internacional, apoio financeiro para realizar seu trabalho e os apresenta a uma rede internacional de conservacionistas e oportunidades adicionais de financiamento. Além do prêmio de 50.000 euros para continuar seu trabalho, os vencedores recebem o troféu do Future For Nature. Em maio, os vencedores viajarão para a Holanda para receber o prêmio e participar da cerimônia.
Um dos vencedores do Prêmio FFN 2019 é a Brasileira Fernanda Abra. A bióloga de 32 anos é aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação de Ecologia Aplicada interunidades da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/ USP) e Centro de Energia Aplicada na Agricultura (Cena). Seus orientadores são a professora Kátia Ferraz, do departamento de Ciências Florestais da Esalq e Marcel Huijser, pesquisador sênior da Western Transportation Institute, Montana State University.
“Me sinto muito feliz em trabalhar pela conservação de espécies incríveis, como a anta, tamanduá-bandeira, lobo-guará, onça-pintada e outros canídeos e felídeos brasileiros, e ser orientada e apoiada por pesquisadores e conservacionistas tão respeitados! Estou muito emocionada e honrada em receber o Prêmio Future For Nature - isso ajudará a aumentar meus esforços e fazer a diferença na proteção da incrível biodiversidade Brasileira”, comemora Fernanda Abra.
Atuação – Fernanda se interessa pela área de Ecologia de Estradas desde 2009. Reduzir os impactos das rodovias e do tráfego nas espécies de mamíferos no Brasil é seu principal objetivo. É co-fundadora da empresa ViaFAUNA, uma empresa de consultoria ambiental especializada no manejo da fauna silvestre em rodovias, ferrovias e aeroportos. A bióloga gerencia a empresa com sua amiga e co-fundadora, Paula Prist. Fernanda está na fase final de terminar seu doutorado e sua pesquisa enfoca as colisões de animais em rodovias no estado de São Paulo e suas implicações para a conservação biológica, a segurança humana e a economia.
“Como pesquisadora, Fernanda já causou um impacto positivo na conservação das espécies no Brasil. Com a pesquisa de seu doutorado, ela está gerando novo conhecimento sobre o número de mamíferos mortos nas rodovias, entendendo os padrões espaciais e temporais e desenvolvendo ferramentas para reduzir o enorme impacto das rodovias e do tráfego na biodiversidade Brasileira. A combinação do seu trabalho sério e sua determinação, resultará na redução da mortalidade não natural dos mamíferos e na redução da fragmentação do habitat causada pela infraestrutura de transporte”, disse a professora Katia Ferraz sobre sua aluna.
Além de seu trabalho acadêmico de pesquisa e consultoria, Fernanda também é voluntária como especialista em Ecologia de Estradas em alguns projetos de conservação como a Iniciativa de Conservação da Anta Brasileira, o Projeto Bandeiras e Rodovias, bem como também é responsável pela coordenação dos Grupos de trabalhos ligados ao impacto de Transportes nos Planos de Ação Nacionais dos canídeos, felinos e ungulados ameaçados de extinção, incluindo espécies icônicas como o lobo-guará, raposa-do-campo, onça-pintada, onça-parda e antas.
“Ela desempenha um papel fundamental na conservação das espécies brasileiras de mamíferos, pois sabe medir a extensão do impacto do atropelamento, o efeito barreira e, mais importante, sabe como mitigar os impactos. Acho muito interessante como a Fernanda se sente confiante e confortável, tanto fazendo trabalho de campo em condições adversas nas rodovias quanto participando de reuniões técnicas e políticas com profissionais e autoridades de agências ambientais e de transporte. Ela é extremamente versátil e sabe manter essa ligação entre o mundo lá fora e as salas de reuniões”, afirma Patricia Medici, coordenadora da Iniciativa de Conservação da Anta Brasileira no Brasil, Presidente do Grupo de Especialistas de Anta da IUCN e Vencedora do Prêmio FFN em 2008.
Fernanda e Patricia trabalharam em um relatório que compilou informações sobre o atropelamento de antas no estado do Mato Grosso do Sul no Brasil. Fernanda também prestou assessoria em um plano de mitigação para uma rodovia específica (MS-040) e apoiou a equipe de Patricia em uma Ação Civil requerendo ao Estado do Mato Grosso do Sul a implementação de medidas de mitigação ao longo desta rodovia.
Marcel Huijser, que trabalha com Fernanda Abra há quase nove anos, falou sobre a pesquisadora. “Ela tem visões de longo prazo, metas concretas e sabe como implementá-las. Quando a conheci em 2010, uma de suas metas era que eu ensinasse sobre Ecologia de Estradas no Brasil. Ela percebeu que levar mais conhecimento ao Brasil sobre Ecologia de Estradas era necessário para lidar com os impactos ambientais associados à rápida expansão da rede de transporte do Brasil. De fato, Fernanda me ajudou a conseguir recursos financeiros e desde então eu já ministrei três cursos de Ecologia de Estradas na no Programa de Pós Graduação em Ecologia Aplicada Esalq. Eu não poderia ter feito isso sem a dedicação, persistência e apoio prático da Fernanda”, afirma.
O doutorado de Fernanda aborda os impactos das colisões de veículos e mamíferos silvestres nas rodovias do Estado de São Paulo e as implicações para a segurança humana, conservação biológica e a economia. Ao incluir a segurança humana e as perspectivas econômicas em seus estudos, Fernanda consegue atingir diversas áreas de interesse para implementar medidas de mitigação para o atropelamento de fauna.
Huijser ainda acrescenta sobre características que contribuíram para a seleção de Fernanda entre os vencedores. “Ela é experiente e sabe como fazer as coisas acontecerem, mesmo em situações sociopolíticas difíceis. Ela continua a me impressionar com o que ela realiza com recursos limitados. Ela é motivada, tem um coração enorme, realmente se preocupa com a conservação, faz uma quantidade incrível de trabalho e está sempre focada em ajudar tanto as pessoas quanto a vida selvagem. É exatamente isso que o Future For Nature procura, a vontade e a habilidade de fazer a diferença pela natureza.”
Saiba mais em https://futurefornature.org/ .