“Corredor Caipira” analisa mortandade de peixes no Rio Piracicaba

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Professor Flávio Gandara é um dos pesquisadores que integra o projeto Corredor Caipira (Rafael Bitencourt)
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Especialistas do projeto “Corredor Caipira: Conectando Paisagens e Pessoas”, que é patrocinado pela Petrobras, analisam a morte de toneladas de peixes no Rio Piracicaba e seus afluentes nos últimos dias. De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), a mortandade foi causada por poluentes agroindustriais lançados irregularmente em um ribeirão afluente do Rio Piracicaba.

O “Corredor Caipira” é realizado pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) e pelo Núcleo de Apoio à Cultura e Extensão Universitária em Educação e Conservação Ambiental (Nace-Pteca) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/Universidade de São Paulo (Esalq/USP). O patrocínio é da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

No dia 7 de julho de 2024, foram encontrados milhares de peixes mortos em um trecho urbano do importante manancial. Dias depois, em 15 de julho, a situação chegou ao bairro do Tanquã, considerado um minipantanal paulista.

O professor Flávio Gandara, da Esalq/USP, e membro do “Corredor Caipira”, destaca o fato de a situação ter ocorrido durante um longo período sem chuvas intensas, com baixa vazão do Rio Piracicaba.

“Nessa época do ano, o nível do rio é baixo, a vazão é pequena e, portanto, os poluentes que chegam ao rio já ficam mais concentrados. Com esses períodos de temperaturas um pouco mais elevadas, o que tem se tornado cada vez mais frequente durante o inverno, aumenta a efetividade dos poluentes, principalmente da carga orgânica, que causam um impacto ainda maior”, diz.

“Além dos contaminantes químicos, substâncias tóxicas, você tem também uma perda da concentração de oxigênio diluído na água, fazendo que haja mortalidade de peixes durante o período de seca”, afirma Gandara.

Cadeia de animais prejudicada

O professor da Esalq/USP chama a atenção ao fato de a mortandade ter chegado ao Tanquã, é extremamente grave, já que afeta não apenas a fauna aquática, mas toda uma cadeia de animais que se alimentam dos peixes.

“Existem já catalogadas 435 espécies de vertebrados lá, que inclui aves, répteis, mamíferos, anfíbios e peixes. Só de aves, são 290 espécies, é uma das áreas mais ricas em aves que a gente tem aqui no estado de São Paulo. E de peixes, 89 espécies, ou seja, é uma área extremamente rica de aves e peixes. Então, há toda uma cadeia trófica que depende desses peixes”, aponta Gandara.

Outra questão apontada é o processo de decomposição. “Esses animais começam a se decompor, liberando aquelas toxinas que os mataram e gerando mais outras no processo de putrefação. Portanto, se esses animais não forem retirados urgentemente da área, o impacto vai ser muito maior ainda na mortandade de outros animais daqui para frente”, diz.

Impactos sociais

O membro do “Corredor Caipira” aponta ainda os impactos sociais causados pelo desastre ambiental no Tanquã. “Há toda uma comunidade que vive diretamente da pesca e também do turismo ecológico e de observação de aves e animais. Quem vai querer visitar um lugar onde há toneladas de peixe mortos? Certamente isso vai afetar severamente o turismo ambiental naquela região. Isso é extremamente grave em termos sociais”, lamenta o professor.

Conexão das águas

O engenheiro florestal e consultor florestal do “Corredor Caipira”, Girlei Cunha, destaca a conexão do rio e seus afluentes, e o impacto que pode ser gerado em longas distâncias em situações como essa. “É causado um impacto, lançado um efluente e, quando vê, um rio inteiro foi afetado, praticamente. É importante olharmos para a conexão entre os corpos da água e o impacto que pode ter uma atividade distante, no caso, de 40 km do curso da água”, diz o engenheiro florestal.

Cunha aponta que a mortandade de peixes no Rio Piracicaba e afluentes deve ter reflexo nas populações futuras de peixes. “Analistas ambientais da Cetesb afirmam que, para recuperar a população que foi afetada agora, levará em torno de nove anos. Serão três gerações, se não ocorrer mais nenhum tipo de evento como esse, para se recuperar”.

Licenciamento ambiental

Outro aspecto destacado pelo consultor florestal do “Corredor Caipira” é a importância do licenciamento ambiental. “No Brasil, às vezes, a população reclama do licenciamento ambiental, que é algo muito rígido, muito caro, que vai causar despesas. Mas isso é fundamental. Imagina se não tivesse controle do licenciamento ambiental. Quantos crimes ambientais como este a gente não assistiria ao longo do ano aqui na nossa região”, aponta o membro do “Corredor Caipira”. “Então, é fundamental ter o licenciamento ambiental e ter a fiscalização ambiental sobre esse tipo de atividade que tem o potencial poluidor. É só um exemplo do quão importante é para a sociedade ter um sistema de licenciamento ambiental operante forte e um sistema de fiscalização também”, completa.

Rafael Bitencourt, Jornalista – MTB 51.477/SP

30/7/2024